Pensata

Eliane Cantanhêde

26/04/2006

Fim das CPIs, começo da campanha

A CPI dos Correios acabou, a dos Bingos está se desmilingüindo e a do Lula nem sequer foi instalada, por pura falta de "fato determinado", como decidiu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com base na sua assessoria. E, claro, na sua aliança com o próprio Lula e no resto de bom-senso que persiste no Congresso.

O resultado da CPI dos Correios foi a denúncia de 19 deputados, que passaram por uma espécie de corredor polonês bonzinho. Muitos foram apontados como culpados pelo Conselho de Ética, mas inocentados pelo plenário. E três acabaram cassados: Dirceu, Jefferson e Pedro Corrêa.

A dos Bingos, que vinha sendo chamada de "CPI do Fim do Mundo", está com um monte de requerimentos disso e daquilo para serem votados, mas ninguém pensa mais nisso. Aliás, nem o senador Efraim Moraes, manda-chuva na comissão. Ontem, terça-feira, não teve quorum para nada e o notável do dia foi Efraim admitindo que o trabalho está quase pronto, que tudo tem de ser votado rapidinho e não se fala mais nisso. Meio assim: votar para derrubar e encerrar essa história.

Já a CPI do Lula, lançada por um pefelista em busca de seus 15 minutos de fama, era para ouvir filho, irmão, padeiro, vizinho e amigo do presidente da República. Em pleno ano eleitoral e depois de 3 CPIs? Não colava.

Agora, tudo o que havia de denúncia nas CPIs contra Lula e contra o PT já está pronto e acabado. O que tem tem, o que não tem muito dificilmente a oposição terá.

E, então, só resta a Lula e ao tucano Alckmin tocarem a campanha. A de Lula vai de vento em popa, embalada inclusive pela intensa campanha de badalação da auto-suficiência do petróleo. A de Alckmin passa a sensação de estar uma confusão alucinada. Os tucanos reclamam, os pefelistas ameaçam pular da chapa, os peemedebistas anti-Lula não seguram o partido.

Quem lê jornais e revistas pode fazer uma contabilidade rápida. Lula, o presidente que finge não é candidato, só produz boas notícias (inaugurações, reuniões com figurões estrangeiros, falatórios e palanques). Alckmin, que é candidato assumido, só produz notícias ruins (divisões, disputas, falta de estrutura, descrença). Todas as colunas e análises mostram insegurança, ou falta de confiança nas suas chances. Sem falar na expectativa de novas pesquisas, sempre negativa, sempre assustadora.

Ah! E sem falar no pior: o fantasma da volta de José Serra como candidato do PSDB. Ninguém acredita, nem mesmo o próprio Serra e muito menos o próprio Alckmin, mas só falar nisso já é um terror para a candidatura.

Lula chega a maio saindo de uma avalanche de denúncias e, aparentemente, sem ferimentos graves. Alckmin chega trôpego, sem mostrar firmeza, nem comandantes, nem tropa. Não é nada, não é nada, é muita coisa.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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