Pensata

Eliane Cantanhêde

10/05/2006

O Caribe na rota da política externa

No meio dessa onda toda de Bolívia, Evo Morales, gás, acabei topando com uma informação curiosa: o Caribe já é um destino tão importante para os produtos brasileiros quanto a França e o Reino Unido, que empatam no quarto lugar das exportações brasileiras na Europa e no 11º no quadro geral.

Desde 2002, as exportações do Brasil para a pequena e pobre região praticamente quadruplicaram, pulando de US$ 618 milhões para US$ 2,4 bilhões em 2005.

O dado merece uma avaliação política, porque é resultado da política externa de Celso Amorim, tão criticada agora, depois da investida de Evo Morales contra a Petrobras e a privada EBX. O Brasil não perdeu mercado no Primeiro Mundo, mantém boas relações com os EUA e, mesmo assim, consegue ampliar horizontes para pequenos países pobres do Sul. Entram aí também África e Ásia. E é uma nova forma de ver o mundo e de se relacionar com ele.

Do total de US$ 2,4 bilhões exportados para o Caribe, a principal parcela, de US$ 1,5 bilhão, é devida toda ela ao comércio com apenas um dos 15 países da Caricom (Comunidade do Caribe): as Bahamas, para onde o Brasil, via Petrobras, exporta óleos brutos de petróleo. As exportações para Bahamas cresceram 1.362% de 2002 para 2005 e 280% apenas de um ano para outro --2004 e 2005.

Considerando-se juntos os países do Caribe e da América Central, as exportações brasileiras foram de US$ 2,9 bilhões em 2004 e saltaram para US$ 4,7 bilhões no ano passado, 57% a mais.

Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Brasil vende para a região, além de produtos na área de petróleo, também álcool etílico, minério de ferro, frangos congelados, ladrilhos e óleo de soja, entre outros.

No mês passado, Amorim foi à região, onde o Brasil também tem projetos de cooperação para a produção de etanol --até como forma de compensar a demanda por petróleo. Um dos projetos mais avançados é com a Jamaica. Ou seja: o Brasil vende petróleo, mas nem por isso deixa de cooperar para que os pobres países caribenhos possam usar e se desenvolver com o etanol.

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, também tem viagem marcada para a América Central neste ano, passando por países que não fazem parte diretamente da Caricom, como a Guatemala e a Costa Rica.

O crescimento, porém, antecede ao governo Luiz Inácio Lula da Silva e começa em 2000, quando o comércio passa a aumentar até chegar ao pico de 2005. Em 2006, a tendência se mantém, com exportações de cerca de US$ 360 milhões em janeiro e fevereiro, ante cerca de US$ 180 milhões no mesmo período do ano passado.

O grande problema na balança comercial é o superávit crônico a favor do Brasil, pois o Caribe, apesar de ser um bom comprador, não é um produtor atraente para o mercado brasileiro.

Do ponto de vista político, um dos fatores para a aproximação crescente do Brasil tanto com a América Central como com a Caricom, especificamente, é a liderança brasileira na força de paz no Haiti.

A expectativa é de que, já empossado o novo presidente, René Preval, e realizadas as eleições legislativas e reinstitucionalizado o país, o Haiti volte a integrar a Caricom. O Brasil trabalha por isso junto aos governos caribenhos.

PS - Por falar nisso, estou saindo de férias. Pena que não para o Caribe, que, além de tudo, é lindo. Volto em junho. Abraço a todos.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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