Pensata

Eliane Cantanhêde

28/06/2006

Guerra no ar

O Palácio do Planalto, o Ministério da Defesa e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) achavam que estavam salvando a Varig e a pátria ao bolarem o plano de autorizar a venda da VarigLog pela tal Volo do Brasil, abrindo caminho para que as duas empresas juntas se habilitassem a comprar a Varig operacional (o que resta de bom da grande empresa). Mas, em vez de salvar alguma coisa, podem ter se metido numa zona de grande turbulência.

A decisão de aprovar que a Volo comprasse a VarigLog (transporte de carga) num dia e disputasse a compra do resto da Varig no outro foi a toque de caixa, questão de dias, apesar de o processo ter se arrastado desde o ano passado. Era tão complicado que durava meses. Virou tão fácil que, literalmente de um dia para outro (de 22 para 23 de junho), produziram-se os pareceres e aprovou-se a decisão na Anac.

Era complicado porque a lei brasileira limita a 20% o capital estrangeiro de empresas aéreas, e a tal Volo não conseguia comprovar ser 80% nacional. E virou fácil porque, de repente, não mais que de repente, o Planalto soprou um "jeitinho" para a Anac. Qual seja: a agência só tem que comprovar se a Volo tem sede, sócios e capital dentro do país. O resto é com a Fazenda e com a Receita Federal. Só que "o resto" é o chamado "ponto crucial": a origem do capital.

De onde vem mesmo o dinheiro da Volo? Vem dos EUA, tanto da Volo Logistic quanto de empréstimos do fundo JP Morgan Chase. Capital nacional? Acredite quem quiser. Como a Anac acreditou, ou fingiu acreditar.

E por que fingiu? Porque o governo e a agência ficaram com faniquito para tentar salvar a Varig, ou um pedacinho dela -- o suficiente para continuar voando e levando a bandeira nacional pelos ares do mundo afora. A qualquer custo, inclusive ao custo de jogar para o alto a legislação brasileira.

"Achamos que prestamos um grande serviço ao Brasil", disse à "Folha de São Paulo" o presidente da Anac, Milton Zuanazzi, referindo-se à autorização para que a Volo comprasse a VarigLog, abrindo caminho para comprar também a Varig operacional.

Há, entretanto, controvérsias, sobre esse serviço ao Brasil. A grande suspeita -- na imprensa, no mercado e em parte do próprio governo -- é que a operação vai virar uma batalha infernal na justiça. Muito desgaste político, técnico e pessoal para dar com os burros n'água e a Volo acabar não comprando Varig nenhuma, nem mesmo a sua ex-subsidiária VarigLog.

Muita gente pode ter arranhado a biografia para nada, muito menos para salvar a Varig.

Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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