Pensata

Eliane Cantanhêde

26/07/2006

FHC e Lula temem novo Congresso

Enfim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu antecessor Fernando Henrique Cardoso chegaram a um tema comum: a preocupação com o desgaste avassalador do Congresso.

Foi essa preocupação que levou o deputado Sigmaringa Seixas, ex-tucano, hoje petista, a conversar com os dois presidentes e tentar alguma abertura para negociações que possam garantir a governabilidade em 2007 --ganhe quem ganhar a eleição de outubro.

Se há algo que FHC e Lula aprenderam a duras penas é que governar com essa estrutura político-partidária é de amargar. Significa comprar votos de partidos e de parlamentares, engolir ministros do arco-da-velha, retalhar politicamente os cargos públicos e fatiar o Orçamento sabe-se lá para quem e para onde.

Mas se há algo pior do que governar com esse Congresso é governar sem Congresso nenhum. Ou um Congresso totalmente desmoralizado. E esse é justamente o risco, depois da descoberta de mensalão e mensaleiros, da impunidade generalizada, de mais de 100 parlamentares envolvidos com o escândalo dos sanguessugas.

E o mais dramático, o mais drástico, o mais horripilante: a volta dessa gente toda ao Congresso em 2007.

Alguma coisa há de ser feita, diz Lula, concorda FHC, leva e traz Sigmaringa. A questão é: o quê? e quem?

Enquanto tucanos e petistas trocam desaforos nos palanques e via telejornais, rádios e jornais, essa é a grande discussão. Mais uma vez, quem deve organizá-la não são os "representantes do povo", mas o próprio "povo" --leia-se: setores vinculados, por exemplo, à Igreja. Até porque aqueles, os tais representantes, já não representam nada.

Aliás, é para eles que se discutem alternativas saneadoras, como reforma política, regras mais duras, Orçamento menos passível de desvios e veto a candidaturas "sujas".

Se os parlamentares não foram capazes de punir os mensaleiros, que a cidadania rejeite os sanguessugas, não apenas não votando neles, mas criando mecanismos para que nem possam ser votados. Vade retro!
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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