Pensata

Eliane Cantanhêde

09/08/2006

Guerra de nervos

Há duas guerras correndo soltas em São Paulo: entre o PCC e as autoridades constituídas e entre o governo estadual e o federal. Nas duas, a maior vítima é a população.

O PCC é um sucesso, de crítica e de público, na bandidagem. Assim, continua recrutando um exército particular para barbarizar nas ruas, surpreendendo as polícias, matando seus agentes e depredando e explodindo o patrimônio público.

Enquanto isso, o governador Cláudio Lembo, de um lado, e o ministro da Justiça, de outro, continuam guerreando entre eles ao invés de guerrear contra o inimigo comum, aparentemente muito mais esperto.

Bastos se diz "amedrontado". Imagine a população de São Paulo! E acusa o governo estadual de se recusar a pedir ajuda e a admitir a presença do Exército para coordenar as ações de inteligência e para inibir atos terroristas.

Lembo responde acusando o governo federal de ter prometido R$ 100 milhões para o Estado e nunca ter mandado um vintém. Para ele e principalmente para o secretário de Segurança, Saulo de Abreu, o Exército só será (seria) bem-vindo na crise se ficar (ficasse) sob o comando do Estado.

Isso equivale a dizer: por mais que o ministro diga que o plano está pronto e que 10 mil soldados poderiam ser deslocados para São Paulo, isso não vai acontecer. Ou não vai acontecer tão cedo. Porque as leis complementares 97 e 117 são claras: qualquer operação militar teria de ficar sob comando militar.

Como tréplica, o Ministério da Justiça avisa que não mandou o dinheiro porque o governo do Estado não justificou o envio com projetos na área de segurança, necessários para formalizar os recursos. E aproveita para fazer uma provocação: já que o Estado não é capaz de fazer os projetos, que tal aceitar uma mãozinha federal para fazê-los?

Outra questão é quanto ao deslocamento de presos de penitenciárias de São Paulo para a de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, que é a única federal pronta até o momento. Nove Estados já reivindicaram vagas. São Paulo não está entre eles.

Há cerca de 15 dias, quando se encontraram para discutir a questão a sério, governador e ministro pareciam caminhar para algo civilizado e absolutamente necessário neste momento: descontaminar a discussão do clima político. Ou seja, separar a crise da segurança pública da campanha eleitoral que divide Lula e a Justiça, de um lado, e Alckmin e o governo de Lembo, do outro.

Vê-se que, apesar das intenções, das entrevistas conjuntas, das fotos lado a lado, não é exatamente assim que as coisas estão evoluindo. O PCC continua forte e organizado. Os que deveriam reprimi-lo continuam perplexos e guerreando por causa de picuinhas.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

E-mail: elianec@uol.com.br

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