Pensata

Eliane Cantanhêde

06/09/2006

O contra-ataque dos não-mensaleiros

Com os índices das pesquisas congelados na eleição presidencial (51% para Lula e 27% para Alckmin, segundo o Datafolha de ontem), as atenções começam lentamente a se deslocar para as eleições parlamentares.

Apesar de os escândalos terem produzido baixas significativas no governo, principalmente as dos superministros José Dirceu e Antonio Palocci Filho, o culpado número um pelo mensalão e pelos sanguessugas acabou sendo o Congresso. Lula escapou razoavelmente ileso.

Deputados e senadores, portanto, empenham-se agora em tentar salvar o que resta da força e da credibilidade do Congresso Nacional. Nem precisaria dizer que são os deputados e senadores não contaminados pelos escândalos.

As primeiras respostas, em série, começaram efetivamente ontem. A mais importante foi a aprovação em primeiro turno, pelo plenário da Câmara, da nova regra de votações para o Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras municipais: as votações não serão mais sigilosas.

Se o projeto for aprovado em segundo turno na Câmara e depois no Senado, Suas Excelências terão de "abrir o voto", ou seja, assumir suas posições. E os eleitores vão saber como se comportam seus representantes, por exemplo, nas votações de cassação de mandato. Vão saber, por exemplo, quem gosta de "pizza", quem livra a cara de mensaleiro ou sanguessuga.

A decisão foi intensamente comemorada pelos parlamentares que se esforçam pela ética na política e pelo voto consciente --o seu voto consciente, leitor. Sentada nas galerias, pude identificar vários deles. Entre outros, Fernando Gabeira, Rafael Guerra, Chico Alencar, Paulo Delgado, Rodrigo Maia, Júlio Delgado, Luciana Genro, o próprio presidente da Casa, Aldo Rebelo. Eles são muitos. Muito mais do que a gente imagina.

Também ontem, foram aprovadas várias medidas provisórias que atravancavam as pautas de votação e projetos importantes, especialmente dois: o das novas regras para pequenas e médias empresas e o Timemania.

Ao lado disso, os deputados reinauguraram o busto do prefeito, governador e senador Mário Covas, que havia sido destruído durante o quebra-quebra do MLST, lembra? Covas, já morto, é considerado um símbolo de parlamentar atuante, firme e ético.

No mesmo espaço, foi aberta uma exposição de cartilhas, cartazes e histórias em quadrinho pregando que o eleitor seja cuidadoso na hora de votar. Não aos picaretas! Não aos velhos e aos novos picaretas! Estavam lá, no Congresso, representantes da CNBB (bispos), da OAB (advogados) e da AMB (magistrados), fazendo eco.

Não é só a sociedade que está exausta diante de tantos descalabros. As entidades representativas, também. E muitos parlamentares dignos, mais ainda. É da soma dessa indignação que se pode tentar mudar as coisas.

É difícil manter a esperança, e você nem imagina o quanto eu sei disso. Mas, sem ela, o que nos resta? Pular do 20º andar?


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    Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006.

    E-mail: elianec@uol.com.br

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