Pensata

Antonio Carlos de Faria

25/09/2003

Perdidos no ciberespaço

O futuro chegou. É fato, mesmo que esteja a anos-luz de parecer futurista para alguém que, ainda criança, tenha se encantado quando o homem pousou na Lua, em 1969.

A façanha parecia tornar verossímil que hoje os humanos já viajassem em algum tipo de jornada mística pelo universo, como a preconizada em "2001: Uma Odisséia no Espaço", filme de 1968. Ou, quem sabe, poderíamos estar envolvidos em trapalhadas cósmicas semelhantes às da família Robinson, em "Perdidos no Espaço".

Esse seriado da TV previa que as viagens estelares teriam começado no final da última década e o "american way of life" estaria em busca de novas fronteiras, indo em direção de Alfa Centauro. Bem, essas são recordações de um menino dos anos 60, sujeito a lapsos e incorreções.

O certo é que nada do que se prometia aconteceu. Os passos lunares de Neil Armstrong ("pequenos para um homem, mas gigantes para a humanidade", se não me engano) ficaram sem seguidores.

Uma pausa. Na virada do milênio, algumas enquetes andaram questionando os internautas sobre qual teria sido a maior realização da humanidade no século 20.

Na maior parte dos levantamentos, os eleitores só conseguiram pensar em coisas que viram em dias recentes. Sem surpresa, internautas disseram que a maior realização do último século havia sido a própria internet. O pouso do homem na Lua ficou eclipsado. As pegadas dos astronautas na poeira lunar já estavam convertidas em pó da história. Fim da pausa.

A corrida espacial que resultou na conquista da Lua, foi o capítulo mais empolgante da disputa entre americanos e russos. A rivalidade entre o capitalismo e o socialismo burocrático impulsionou o homem para uma exteriorização.

Depois que a Lua foi atingida, o próximo passo seria Marte, mas aí o sistema soviético já dava sinais de agonia. O enfraquecimento do oponente amesquinhou os vencedores.

O fim da corrida espacial se deu antes de a internet emergir no oceano da globalização. Quando a internet veio, o homem, que deixava de fazer esforços para se exteriorizar, encontrou no mundo virtual o lócus em que poderia efetuar o movimento contrário, o da interiorização.

No lugar de se aventurar pelos mares desconhecidos do universo, veio o prêmio de consolação que é navegar no teclado de um computador.

Não estou com isso desmerecendo o imenso potencial revelado pela internet, que ainda mal começa a ser explorado. Porém ao chegar ao futuro, em 2003, não era bem isso o que esperava o menino que, em 1969, ficava indeciso entre namorar a Judy ou a Penny Robinson.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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