Antonio Carlos de Faria
30/10/2003
Havia a tese recorrente de que o governo petista iria comprometer o fictício equilíbrio que estava herdando do período anterior. Muitos preferiam a ilusão de estabilidade a remexer nos fundamentos da sua inexistência.
É quase cômico ler os artigos que os videntes escrevem agora. Atualmente, continuam prevendo desgraças, apesar de o governo Lula ter optado por edificar sobre a pedra de seu antecessor -fato que aprovam com muxoxos.
Com freqüência, esses magos complementam suas análises com algumas considerações oriundas de críticos dessa opção, sejam petistas ou simpatizantes que se decepcionaram. A mágica é montada para que os videntes possam caracterizar o governo como traidor.
Mas a mágoa desses senhores advém de eles próprios se sentirem traídos. Acham imperdoável o governo não ter cumprido os presságios nefastos que anunciavam.
Para tentar disfarçar o próprio ressentimento, instrumentam a desilusão de terceiros. A ação justa e honrada do deputado Fernando Gabeira, que deixou o PT ao discordar frontalmente com políticas implementadas pelo governo, ganhou dos videntes uma solidariedade de verniz.
Com a discrição adequada a um picadeiro, sorriram atrás das máscaras, pois chegaram a vislumbrar na dissidência de Gabeira uma faísca, um indício de fogo que poderia incendiar o circo.
Para que não fiquem dúvidas, essas considerações não são uma defesa ou louvação do governo. Há diversos senões que merecem correção, como a falta de arrojo para o tal ciclo de crescimento espetacular, ou para reformas econômicas que melhorem as condições de vida e não simplesmente as condições do Estado em pagar suas dívidas.
Nem mesmo os governantes poderiam dizer honestamente que estão satisfeitos com o que vêm realizando. Há enorme distância em relação às expectativas que despertaram. Porém é preciso distinguir entre as críticas dos que exigem mais ousadia e as pragas dos que não desejam um novo modelo para o país.
Há um ano, essa coluna dizia que os adivinhos estavam em crise, pois não haviam previsto a concorrência dos analistas políticos. Hoje, quem sofre com essa competição são certos artistas circenses.
O circo dos videntes
Há um ano esta coluna abordou as previsões que então se faziam sobre o governo Lula (Os videntes e o rei). Era comum entre os videntes da política os vaticínios de um cenário de caos, no qual já deveríamos estar mergulhados caso estivessem certos.Havia a tese recorrente de que o governo petista iria comprometer o fictício equilíbrio que estava herdando do período anterior. Muitos preferiam a ilusão de estabilidade a remexer nos fundamentos da sua inexistência.
É quase cômico ler os artigos que os videntes escrevem agora. Atualmente, continuam prevendo desgraças, apesar de o governo Lula ter optado por edificar sobre a pedra de seu antecessor -fato que aprovam com muxoxos.
Com freqüência, esses magos complementam suas análises com algumas considerações oriundas de críticos dessa opção, sejam petistas ou simpatizantes que se decepcionaram. A mágica é montada para que os videntes possam caracterizar o governo como traidor.
Mas a mágoa desses senhores advém de eles próprios se sentirem traídos. Acham imperdoável o governo não ter cumprido os presságios nefastos que anunciavam.
Para tentar disfarçar o próprio ressentimento, instrumentam a desilusão de terceiros. A ação justa e honrada do deputado Fernando Gabeira, que deixou o PT ao discordar frontalmente com políticas implementadas pelo governo, ganhou dos videntes uma solidariedade de verniz.
Com a discrição adequada a um picadeiro, sorriram atrás das máscaras, pois chegaram a vislumbrar na dissidência de Gabeira uma faísca, um indício de fogo que poderia incendiar o circo.
Para que não fiquem dúvidas, essas considerações não são uma defesa ou louvação do governo. Há diversos senões que merecem correção, como a falta de arrojo para o tal ciclo de crescimento espetacular, ou para reformas econômicas que melhorem as condições de vida e não simplesmente as condições do Estado em pagar suas dívidas.
Nem mesmo os governantes poderiam dizer honestamente que estão satisfeitos com o que vêm realizando. Há enorme distância em relação às expectativas que despertaram. Porém é preciso distinguir entre as críticas dos que exigem mais ousadia e as pragas dos que não desejam um novo modelo para o país.
Há um ano, essa coluna dizia que os adivinhos estavam em crise, pois não haviam previsto a concorrência dos analistas políticos. Hoje, quem sofre com essa competição são certos artistas circenses.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas E-mail: acafaria@uol.com.br |