Pensata

Antonio Carlos de Faria

04/07/2004

O consumidor do futuro

No processo contínuo de divisão do trabalho uma das especializações mais curiosas é a dos conselheiros para casais que vão ter filhos. Trata-se de um profissional que tenta orientar os progenitores a evitar erros comuns dos marinheiros de primeira viagem, dissipando medos e mitos.

É claro que mesmo com toda preparação sempre haverá a hora da verdade e alguém vai ter que trocar a fralda do bebê, encarando a substância do ser.

Nesse momento de revelações que afetam a todos os sentidos, a orientação de um conselheiro pode ser o elemento que estabeleça uma ponte entre a tradição e a modernidade. É aí que se descobre que as fraldas descartáveis ainda não substituíram totalmente os velhos modelos de pano.

Há quem pense que as fraldas de pano são representantes de um passado arqueológico, mas uma análise rápida lembrará que não faz tanto tempo assim que tiveram seu reinado, pois foram usadas por boa parte dos pais atuais.

Foi nas fraldas de pano que os mandatários de nossa geração realizaram suas primeiras obras, o que não quer dizer que elas tenham alguma responsabilidade pela situação em que vivemos.

Os conselheiros de futuros papais mostram que, mesmo com seu passado glorioso, o presente das fraldas de pano é bem diferente de sua missão original. Agora elas servem como anteparos para se alimentar os bebês, para auxiliar na higiene e para forrar as superfícies onde eles serão desvencilhados das fraldas descartáveis, produto que compõe o primeiro item de qualquer lista de compras de futuros papais.

Aí entra a expertise dos conselheiros. Eles ajudam a definir quais são as unidades essenciais dessa lista de compras, pela qual o bebê já é um cidadão da sociedade de consumo mesmo antes de nascer.

Quem já ouviu um conselheiro sabe que é preciso vencer as tentações. Nada de sair por aí usando o cartão de crédito para adquirir tudo o que possa parecer bonitinho para o pimpolho. É necessário ter moderação, pois a maior parte do que se compra é logo superada pelo inexorável crescimento do futuro pagador de impostos e mutuário da dívida pública.

Na lista recomendada pelos conselheiros, a tradição está garantida pelas fraldas de pano, mas há campo de sobra para as inovações. Entre elas a mais primária talvez seja as das roupas sem costuras que possam causar desconfortos, ou elásticos que restrinjam, mesmo que minimamente, a respiração do bebê.

Atenção futuros padrinhos e madrinhas, ou mesmo amigos que terão que passar pela prova da compra de presentinhos. Não adianta comprar roupinhas caras, cheias de babados e fitas que há muitos pode suscitar recordações edipianas -mamãe adorava me ver vestido assim...

O negócio hoje é ser moderno e roupa de bebê tem que ter praticidade, com o mínimo de costuras, com velcro no lugar de botões, sem elásticos. Não se constranjam se a roupinha que escolheram de presente parecer com um saco de batatas, isso não é mera coincidência.

Agora, fujam da tentação de economizar durante uma mega feira de produtos para bebês. Ninguém merece entrar em um congestionamento de carrinhos, papais, mamães e suas indefectíveis babás. Sem falar nas vovós, que não perdem um programa desses, principalmente agora em que muitos dos bingos estão fechados.

Alguém já disse que o homem só se propõe problemas quando as condições para as respostas já estão dadas. No caso das feiras de produtos para bebês, o melhor é não se fazer a proposição, pois ao se entrar nelas é quase impossível entender onde estão as condições para sua resolução.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

Leia as colunas anteriores

//-->

FolhaShop

Digite produto
ou marca