Pensata

Antonio Carlos de Faria

08/08/2004

Olha o foco!

O Rio é uma cidade que sofre os efeitos da perda de capitais. Não só dos capitais que evaporaram quando a centenária Bolsa de Valores da praça Quinze foi implodida pela especulação, mas das outras capitais que aqui já tiveram praça. Como a capital federal, a capital da moda, a capital cultural e a capital do futebol.

Desses títulos tradicionais, só um ainda resta ao Rio de forma incontestável, o de capital turística. Esse é um dístico que subsiste heroicamente, pois a cidade continua atraindo a maior parte dos visitantes que chegam ao país e é um lugar que brasileiros de outras paragens sonham em conhecer.

Bem administrado, o título de capital turística poderia redimir o Rio da falta de rumo. O turismo é hoje a principal fonte de divisas para muitos países. Trata-se de uma atividade que cria muito mais empregos do que qualquer forma de indústria.

Ao investir no título de capital turística, o Rio poderia gerar postos de trabalho e renda e ter alternativas para não ser capital das drogas e da violência. Com um planejamento eficiente, também ficaria longe a ameaça de ser capital do turismo sexual.

Dizer essas coisas pode parecer de uma obviedade agressiva. No entanto é algo que passa totalmente ao largo da eleição municipal carioca. Nenhum dos candidatos a prefeito do Rio coloca o turismo como elemento principal da plataforma de campanha.

E vejam bem. O turismo, no caso do Rio, não deve ser tratado como problema, mas como solução para boa parte das mazelas que corroem a cidade.

Uma solução que, para ser aprimorada, demanda investimentos que a própria cidade pode fazer. Principalmente em conservação e limpeza, tratamento com dignidade para a população de rua e incentivo à iniciativa privada para que o Rio fortaleça sua vocação ao lazer.

Em vez disso, o que vemos é uma campanha eleitoral que se concentra em questões que estão além da competência municipal, como o combate à criminalidade ou ao tráfico internacional. Em outra vertente, os debates se perdem em novas promessas para velhas questões, como a falta de habitação ou o caótico sistema de transportes.

Falta foco, poderíamos gritar se estivéssemos em um velho cinema de rua, em Copacabana ou na Cinelândia. Cinemas dos quais só restam alguns bravos representantes, como o Roxy e o Odeon.

Recentemente, os dois deixaram de ser apenas símbolos de um passado de glórias. Com competência, foram restaurados e modernizados. Hoje brilham de novo entre as melhores salas, disputando e atraindo público. A cidade poderia mirar-se nesses dois exemplos.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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