Pensata

Antonio Carlos de Faria

28/08/2004

Frescobol olímpico

Já se disse que a história do Brasil é repleta de chances perdidas, sendo que a primeira aconteceu quando Cabral desembarcou nestas terras e foi embora dizendo que esteve numa ilha. No caso, o navegador perdeu a oportunidade de não falar nada e ficar por aqui mesmo, desfrutando o paraíso possível.

As últimas chances dispensadas pelo o país tiveram como palco as Olimpíadas. Uma delas, logo na cerimônia de abertura dos jogos, em Atenas. Ninguém merecia desfilar com um uniforme daqueles, a não ser num baile carnavalesco.

Aquela mistura de verde bílis com as ondas do calçadão de Copacabana podiam ter causado uma tragédia internacional, digna de um Osama. Todos que presenciaram o espetáculo estiveram sob a ameaça de um ataque, não de terroristas, mas de náuseas.

Porém a maior oportunidade perdida pelos brasileiros nas Olimpíadas já vem de outras edições. Outros povos fizeram lobby e conseguiram incluir modalidades típicas de suas culturas como dignos de disputa olímpica. Vejam o exemplo do taekwondo ou do softbal, que chegaram recentemente a essa glória. Então, por que não fazemos uma campanha para incluir o mais genuíno esporte brasileiro?

Engana-se quem pensou na capoeira ou no jogo de porrinha. Não há dúvida de que são atividades dignas de figurar no panteão dos deuses. Mas, sem tirar o brilho dos demais, o esporte brasileiro que deveria ter a primazia em ser elevado ao Olimpo é o frescobol.

Sim, amigos leitores. O frescobol, como já foi definido por Millôr Fernandes, é o único esporte em que realmente o que importa não é vencer. Nem chega a ser uma competição, pois nele não há contagem de pontos nem ganhadores. Além disso, é um jogo sem adversários, posto que os jogadores querem sempre que o outro lado acerte a bola.

Se há um adversário do frescobol, é sempre o banhista que, não tendo nada a ver com o jogo, acaba sendo alvo de uma bolinha perdida. Nesse caso, se a vítima pensar bem, levantará as mãos para o céu, admitindo que ser atingido por uma bolinha perdida, nos tempos atuais, é quase um consolo.

O frescobol, conta a lenda, surgiu na primeira metade do século 20 nas areias de Copacabana. Era ali que o brasileiro iniciava seu caso de amor pelas praias. O banho de mar passava a ser algo além de uma terapia medicinal.

Pois então, está lançada a campanha pela inclusão do frescobol nas Olimpíadas. Como não há disputa entre os praticantes, as medalhas devem ser conferidas aos jogadores que por mais tempo mantiverem as bolinhas em jogo. Essa seria a melhor contribuição de Copacabana para as Olimpíadas. Eis uma oportunidade que não se deve perder.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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