Pensata

Antonio Carlos de Faria

01/01/2005

O Réveillon do Leon

Mais um Réveillon em Copacabana. Confesso que ano a ano esse é um espetáculo que me comove. Toda aquela gente dizendo desejar a paz, algo impossível de ser alcançado, pelo menos para os que estão vivos.

O grande evento criado pelos cariocas é com certeza uma celebração pela vida. E nada mais contrário à paz do que estar vivo. A vida é luta, diz apropriadamente o clichê universal.

Talvez o mais próximo que os celebrantes de Copacabana possam chegar do desejo inalcançável seja exatamente aquilo que experimentam na grande noite de passagem de ano.

A acreditar nas estatísticas, estão ali de dois a três milhões de pessoas, à beira-mar. Mesmo com toda essa concentração de gente, são raros os conflitos e a polícia se ocupa mais com problemas de trânsito e alguns casos de excesso alcoólico.

Cada um reproduz de forma particular os preceitos que prometem trazer um futuro melhor. Vale comer lentilhas ou uvas, pular sete ondas na beira da água, usar calcinhas ou cuecas novas, tomar um banho de champanhe ou simplesmente cumprimentar os conhecidos e desconhecidos que estão próximos.

É realmente algo bonito de se ver, com o bônus adicional de ainda haver a queima de fogos. Esse é o momento literalmente pirotécnico que a televisão soube se apropriar, transformando em espetáculo mais uma manifestação popular.

O mesmo aconteceu anteriormente com o Carnaval das escolas de samba, o que significou a lenta e irresistível substituição do povo pelos turistas, tanto na platéia, quanto no próprio desfile.

No Réveillon, a vinda cada vez maior de turistas a Copacabana não parece trazer riscos ao caráter popular da festa. Ali todos são desejantes de algo que não há e nisso somos todos iguais.

Aos leitores que escreveram estranhando a ausência dessa crônica nos últimos dois meses, deixo a explicação de que nesse tempo estive envolvido com um único grande tema, que no entanto não soube até agora expressar em palavras.

Em outubro nasceu Leon e desde lá venho me penitenciando por ter sido cético ao ouvir outros pais dizerem que haviam aprendido muito com o nascimento de seus filhos.

A cada dia, vou aprendo uma forma de amor totalmente nova e que se satisfaz com a simples retribuição de um sorriso banguela.

No início deste novo ano, agradeço ao Leon por me permitir ser uma pessoa mais feliz do que a que esteve em outros réveillons de Copacabana.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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