Pensata

Antonio Carlos de Faria

13/06/2002

Uma proposta

Peço licença aos poucos leitores que frequentam essa crônica semanal e que já se habituaram a encontrar um espaço que procura ser alternativo às mazelas do noticiário. Nesta semana, quero propor uma reação organizada à morte brutal do repórter Tim Lopes.

Em crônica anterior -Pequena História da Moda Carioca- tentei abordar o papel precursor exercido pela violência do Rio no cenário nacional. O novo patamar alcançado, o assassinato de um jornalista, não pode se tornar mais um fenômeno que daqui se irradie para o país.

A prisão e a condenação dos assassinos de Tim Lopes é essencial para que não se estabeleça um novo ciclo de impunidade, que estimularia outros atos semelhantes. Isso é o que se espera da polícia e da Justiça. Aos jornalistas cabe a conclusão do trabalho ao qual o repórter se dedicava.

Caso sua missão seja interrompida, os traficantes terão conseguido calar não só um jornalista, mas o próprio jornalismo, suprimindo o direito da sociedade em ser informada. A melhor homenagem a Tim Lopes é mostrar que a intimidação não foi vitoriosa.

É claro que isso é tarefa para ser empreendida de forma inteligente e coletiva, de forma a evitar novos sacrifícios.

A experiência mostra que a articulação de movimentos organizados é mais eficiente do que a efêmera comoção causada por uma sucessão de mártires.

Basta lembrar choques igualmente violentos, que abalaram o país, como as chacinas da Candelária ou de Vigário Geral. O tempo passou e todos sabemos que essas tragédias continuam passíveis de repetição.

Crime semelhante contra um repórter gerou, nos Estados Unidos, uma associação de jornalistas investigativos. A principal característica da organização é mobilizar vários jornalistas para apurar um caso, sempre que um repórter é impedido de fazê-lo.

A reação nesses moldes torna a intimidação inócua, pois acaba revelando aquilo que o agressor queria manter oculto. Quem quiser calar a imprensa pensará duas vezes, pois no lugar de um repórter que o incomoda estará atraindo um grupo.

Essa ação organizada se daria em qualquer situação e não apenas quando a agressão partisse de personagens marginalizados pela sociedade. É importante lembrar, e os jornalistas sabem muito bem disso, que a violência não é monopólio de traficantes incrustados em comunidades pobres.

Esta é uma proposta pela qual espero contribuir com as discussões surgidas após o desaparecimento do bravo jornalista. A angústia, quando direcionada, pode se transformar em energia que transforme a realidade. Infelizmente, nada pode reparar o mal já cometido.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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