Antonio Carlos de Faria
18/07/2002
Cedo à curiosidade e vasculho a caixa, intrigado com imagens em preto-e-branco. Quem as esqueceu por ali, é razoável pensar, talvez as visse como recordações em demasia.
Ou, quem sabe, podem ser qualquer outra coisa. Possivelmente, a pessoa que as jogou não sentia nada especial por elas, a não ser como estorvos na arrumação da casa.
Quase todas são de um mesmo casal. No verso, leio que a maioria foi tirada entre os anos 40 e 50. Algumas indicam que tinham predileção por estações de água, como Araxá e Caxambu.
Há também fotos em uma praia, na qual os dois aparecem sempre sorrindo. Demoro a acreditar, quando constato que são de Copacabana, tiradas aqui mesmo, no trecho junto a esse prédio.
Estações de água, Copacabana, festas de aniversários, um passeio de carro, uma taça de sorvete compartilhada em uma confeitaria. Fotografias para eternizar instantes fugidios. Uma forma de permanecer além do tempo das próprias vidas.
A pessoa que as rejeitou rompeu com esse intuito. Reafirmou, mesmo sem querer, que isso é impossível.
Recoloquei-as na caixa e as entreguei ao porteiro. Disse que provavelmente estavam perdidas -o que, de certa forma, era mesmo verdade. Isso foi há três anos.
A partir dali, passei a perguntar se alguém as teria procurado. Fazia isso diariamente, depois com intervalos maiores, sempre sem resultados.
Ontem, o porteiro informou que uma moça veio ao prédio para olhar o apartamento de seus avós -há muito tempo vazio. Ao ir embora, levou alguns objetos e aquelas fotografias do passado, que eu também já havia esquecido.
Fotos amarelas
São velhas fotografias que alguém abandonou, em uma caixa de papelão, na garagem do prédio. Enxerguei-as próximas à lata de lixo, enquanto jogava o jornal do dia. Ao me livrar do passado recente, vejo que uma pessoa se desfez de memórias mais remotas.Cedo à curiosidade e vasculho a caixa, intrigado com imagens em preto-e-branco. Quem as esqueceu por ali, é razoável pensar, talvez as visse como recordações em demasia.
Ou, quem sabe, podem ser qualquer outra coisa. Possivelmente, a pessoa que as jogou não sentia nada especial por elas, a não ser como estorvos na arrumação da casa.
Quase todas são de um mesmo casal. No verso, leio que a maioria foi tirada entre os anos 40 e 50. Algumas indicam que tinham predileção por estações de água, como Araxá e Caxambu.
Há também fotos em uma praia, na qual os dois aparecem sempre sorrindo. Demoro a acreditar, quando constato que são de Copacabana, tiradas aqui mesmo, no trecho junto a esse prédio.
Estações de água, Copacabana, festas de aniversários, um passeio de carro, uma taça de sorvete compartilhada em uma confeitaria. Fotografias para eternizar instantes fugidios. Uma forma de permanecer além do tempo das próprias vidas.
A pessoa que as rejeitou rompeu com esse intuito. Reafirmou, mesmo sem querer, que isso é impossível.
Recoloquei-as na caixa e as entreguei ao porteiro. Disse que provavelmente estavam perdidas -o que, de certa forma, era mesmo verdade. Isso foi há três anos.
A partir dali, passei a perguntar se alguém as teria procurado. Fazia isso diariamente, depois com intervalos maiores, sempre sem resultados.
Ontem, o porteiro informou que uma moça veio ao prédio para olhar o apartamento de seus avós -há muito tempo vazio. Ao ir embora, levou alguns objetos e aquelas fotografias do passado, que eu também já havia esquecido.
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Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas E-mail: acafaria@uol.com.br |
