Pensata

Antonio Carlos de Faria

01/08/2002

Nova York é aqui

Cândido chegou aos 50 cansado de viajar pelo mundo. Já havia conhecido quase tudo e ultimamente limitava seu roteiro a Paris -o único lugar onde até o tédio dá prazer, dizia.

Mas agora decidiu que não sairia mais de Copacabana. Depois de 30 anos trabalhando em uma companhia aérea, tinha desenvolvido uma aversão a malas e quartos de hotéis.

Além disso, descobrira que em poucas quadras seu bairro compreendia o mundo.

De seu apartamento, na praça do Inhangá, caminhava com prazer até a piscina do Copacabana Palace, aproveitando a autorização permanente -privilégio conseguido com uma antiga namorada.

Ali vivia o clima mediterrâneo e muitas vezes fantasiou estar novamente caminhando por Monte Carlo.

À noite, gostava de entrar nos inferninhos da rua Prado Júnior. O ar decadente trazia-lhe lembranças do bulevar Clichy, com a vantagem de as mocinhas locais serem mais bonitas do que as parisienses.

Portugal, então, estava por todos os botequins e, principalmente, nos pastéis de Santa Clara da Marisqueira, o velho restaurante que ele podia ver de sua casa.

Cada nova confirmação do cosmopolitismo de seu bairro era motivo de comemoração. E hoje foi um dia particularmente feliz. Ele estava fascinado com a recente descoberta.

Ao fazer sua caminhada diária, contou várias carrocinhas e vans vendendo cachorro-quente. Também havia muitos camelôs vendendo falsificações de grifes famosas.

Há algum tempo, havia notado a chegada desses novos elementos em seu universo particular. Mas só agora via que todas as esquinas estavam ocupadas por eles.

Sorriu feliz. Finalmente Copacabana também tinha ares de Nova York.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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