Antonio Carlos de Faria
08/08/2002
A poucos metros, no mesmo saguão, a prefeitura colocou painéis mostrando fotos de bens arquitetônicos demolidos nas várias reformas urbanísticas do Rio. "Memória da Destruição" é o título mais que apropriado da exposição.
É a chance para ver uma imagem da Praça Onze -na qual nasceram os desfiles de Carnaval-, aniquilada para a construção da avenida Presidente Vargas. A mesma obra também arrasou a igreja de São Pedro dos Clérigos, uma das jóias barrocas brasileiras. Delas, só restaram relatos e poucas fotos.
Alheios à exposição, que denuncia a transitoriedade da vida, contínuos, desocupados e outros passantes estamos hipnotizados pela dançarina, que segue o ritmo lascivo dos tambores e faz seu corpo oscilar sob os tecidos transparentes.
"Essa é a Jade que eu queria ter lá em casa", grita um sujeito mais afoito. O véu mal deixa ver, mas todos percebem um sorriso no rosto da dançarina, que capricha ainda mais nos, digamos, movimentos ondulatórios.
"Péra lá! Vai ficar com os sete véus?", questiona o mesmo rapaz. Suas palavras funcionam como uma espécie de convocação, pois em seguida os outros marmanjos começam a clamar "tira, tira!". Ela parece atender aos apelos e remove um dos véus. Mas fica claro que o que fingiu revelar já era visível antes.
A música termina e a dançarina conclui seu número, conquistando aplausos do público, que logo depois começa a ir embora. Restam o palco vazio e essas memórias.
Volto para os painéis e vejo novamente a Praça Onze. Há pessoas passeando entre os jardins, outros sentados nos bancos. Falta um bonde no cenário. Um bonde que me lembre que tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorneiro.
Transitórios
O locutor anuncia a próxima dançarina e quem entra no palco é uma gordinha envolta em véus. Começa mais uma apresentação de dança do ventre, na estação Carioca do metrô, onde alguém teve a idéia de montar um palco para shows.A poucos metros, no mesmo saguão, a prefeitura colocou painéis mostrando fotos de bens arquitetônicos demolidos nas várias reformas urbanísticas do Rio. "Memória da Destruição" é o título mais que apropriado da exposição.
É a chance para ver uma imagem da Praça Onze -na qual nasceram os desfiles de Carnaval-, aniquilada para a construção da avenida Presidente Vargas. A mesma obra também arrasou a igreja de São Pedro dos Clérigos, uma das jóias barrocas brasileiras. Delas, só restaram relatos e poucas fotos.
Alheios à exposição, que denuncia a transitoriedade da vida, contínuos, desocupados e outros passantes estamos hipnotizados pela dançarina, que segue o ritmo lascivo dos tambores e faz seu corpo oscilar sob os tecidos transparentes.
"Essa é a Jade que eu queria ter lá em casa", grita um sujeito mais afoito. O véu mal deixa ver, mas todos percebem um sorriso no rosto da dançarina, que capricha ainda mais nos, digamos, movimentos ondulatórios.
"Péra lá! Vai ficar com os sete véus?", questiona o mesmo rapaz. Suas palavras funcionam como uma espécie de convocação, pois em seguida os outros marmanjos começam a clamar "tira, tira!". Ela parece atender aos apelos e remove um dos véus. Mas fica claro que o que fingiu revelar já era visível antes.
A música termina e a dançarina conclui seu número, conquistando aplausos do público, que logo depois começa a ir embora. Restam o palco vazio e essas memórias.
Volto para os painéis e vejo novamente a Praça Onze. Há pessoas passeando entre os jardins, outros sentados nos bancos. Falta um bonde no cenário. Um bonde que me lembre que tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorneiro.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas E-mail: acafaria@uol.com.br |