Pensata

Antonio Carlos de Faria

15/08/2002

Maridos profissionais

O Jonjoca faz parte do clube dos maridos profissionais*, que congrega os que já se casaram algumas vezes, mesmo sabendo que a tal cara metade só existe mesmo na hora de pagar a pensão.

Como membro do clube, ele é incapaz de achar graça em um sábado de sossego. A única coisa que consegue sentir é um vazio inexplicável, que tenta preencher com os relacionamentos sucessivos.

A última tentativa foi com a Deolinda, mulher que o encantou com a capacidade de falar de todos assuntos (ver "O homem inútil"). O casamento terminou justamente por isso. Com o tempo, ele se tornou um mero ouvinte e ela precisou de um público mais qualificado, capaz de diálogo.

Após essa separação mais recente, Jonjoca se viu solitário no fim de semana. A única saída que encontrou para a angústia foi ir à praia, rever a velha turma.

Sua chegada ao posto nove, em Ipanema, foi saudada como um milagre, uma espécie de ressurreição. Na roda, contou as novidades e perguntou sobre as coisas que havia perdido.

Alguns elogiaram sua forma física e quiseram saber o segredo. Ele disse que continuava vegetariano, hábito adquirido com a segunda mulher.

Alguém lembrou que há muitos anos ele havia escrito um livro de poesias eróticas, cujo título, "Carnal", era tão óbvio quanto o conteúdo. Com certeza, não havia sido dedicado para a tal vegetariana, brincaram. Ele sorriu amarelo. Não, não foi para ela. Foi para a primeira mulher.

E da terceira, o que ele havia herdado? Perguntaram rápido, já achando graça naquela sequência.

Dois filhos, que ela levou para Brasília com o novo marido, disse ele. Dois filhos, duas pensões, completaram os amigos. Três, concluiu.

Havia mais um, do quarto e último casamento. Último? Ninguém acreditou naquela palavra que, no caso dele, não podia soar como verdadeira. O melhor casamento é sempre o próximo, disse um dos amigos, sintetizando aquilo que parecia ser a filosofia de vida de Jonjoca.

Todos riram. Jonjoca também. Mas de repente ele parou e pediu silêncio. Que tal mudar de assunto? Vamos falar de outra coisa, pois o tema já está cansativo. Os amigos concordaram. Mas falar do quê? Jonjoca sentou numa cadeira de praia, abriu uma cerveja e olhou em volta antes de perguntar: alguém conhece uma gata disponível?

*mais detalhes sobre o assunto no site de
Rubens Molina http://sites.uol.com.br/rubensmolina/
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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