Pensata

Antonio Carlos de Faria

05/09/2002

Pátio do colégio

Começa a hora do recreio e os meninos correm para mais uma sessão de insultos, no pátio do colégio. Uns chamam os outros de desequilibrados, inexperientes e mentirosos. Andam vendo muita propaganda eleitoral. O que os meninos talvez não saibam é que os candidatos não estão se agredindo, estão apenas cobertos de razão.

A começar pelo suposto desequilíbrio. Afinal, alguém que se dispõe a disputar a Presidência da República não pode ser um modelo de normalidade. De alguma forma tem que se distinguir da massa que pretende governar. É preciso fugir ao equilíbrio mediano, um dos sinônimos de ser medíocre.

Sobre a inexperiência nem é preciso discorrer muito. Nenhum dos presidenciáveis concorre à reeleição ao cargo, portanto para qualquer um deles chegar lá será uma nova experiência.

Ter administrado uma prefeitura, um governo de Estado, um ministério ou um movimento social contam pontos, mas são coisas muito distintas de ter o comando de um país, ainda mais no Brasil, onde o poder presidencial retém vestígios discricionários das monarquias.

Mentirosos são todos eles. Do contrário, como poderiam fazer a defesa de alianças eleitorais impensáveis, de idéias incoerentes com a própria biografia? Mentiras que justificam em nome da necessidade de vitória e da construção de uma futura governabilidade.

Mentiras aceitas principalmente pelos eleitores de cada candidato, capazes de elaborar raciocínios complexos em defesa desse comportamento, e dizendo isso antecipo prováveis protestos de militantes indignados, certos de que a verdade está com eles e não com seus opositores.

Os candidatos são tão mentirosos que chegam a dizer que um adversário é covarde, sabendo que o mesmo pode ser qualquer coisa menos isso.

Alguém que se expõe publicamente, permitindo que sua vida seja devassada, e, arriscando mais ainda, come buchada de bode em busca do voto, é uma pessoa de coragem, nunca um covarde.

Agora, apelação mesmo ocorre quando os xingamentos chegam ao cúmulo de um classificar o outro de chorão, careca ou destemperado.

Nesse caso, realmente a campanha resvala para o baixo nível e o melhor é os meninos deixarem de ver TV, durante o horário eleitoral, antes que comecem a se chamar de mijão, bundão e outros nomes feios.



Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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