Antonio Carlos de Faria
19/09/2002
Não houve tempo para questioná-la. A moça já ia longe e ele, que apenas caminhava, não estava com a menor disposição para sair desembestado. Três dias depois, ficou arrependido. Ao chegar em casa, ouviu na secretária eletrônica uma voz feminina e um recado lacônico: "falso".
Por qual motivo estariam duvidando de sua autenticidade? O recado teria sido deixado pela mesma moça do calçadão? Esses questionamentos permaneceram por algum tempo, mas foram perdendo a força. Até que veio o nhoque da fortuna.
Ao sair para jantar com amigos, no dia 29, ele foi o único a pedir o tal nhoque que traz a sorte. Na hora de comer, lembrou que a tradição mandava colocar um dólar sob o prato. Entre risos, simulou o ritual. Embaixo do prato encontrou um bilhete.
Desdobrou o papel e viu apenas uma palavra: "falso". O garçom contou que uma moça havia pedido aquilo, antes de ir embora. Isso já era demais. Alguém estava querendo embaraçá-lo. Mas quem poderia ser?
Passou o jantar encafifado. Quando terminou, quis caminhar entre o Leme e Copacabana, tomar um pouco de ar. Voltou pela Atlântica. Duas quadras depois, enxergou uma mulher parecida com a tal corredora.
Resolveu segui-la, mesmo quando entrou em uma das boates enigmáticas do posto dois. Envolvido pela penumbra, convidou uma das moças para dançar. Assim poderia procurar a outra sem dar na vista.
A parceira percebeu que ele estava desatento e o atraiu com um sorriso meigo. Os dois se abraçaram. Trocaram palavras com carinho e continuaram a dançar por muito tempo. Ao final da noite, o rapaz pensou em ser gentil e disse que gostaria de revê-la. Ela sussurrou em seu ouvido: "falso".
Identidade
Aquilo havia começado há duas semanas, quando uma moça passou correndo por ele no calçadão da avenida Atlântica e o olhou de forma estranha, como se quisesse compartilhar alguma intimidade. O rapaz ia dizer oi, mas ela foi mais rápida e falou apenas uma palavra: "falso".Não houve tempo para questioná-la. A moça já ia longe e ele, que apenas caminhava, não estava com a menor disposição para sair desembestado. Três dias depois, ficou arrependido. Ao chegar em casa, ouviu na secretária eletrônica uma voz feminina e um recado lacônico: "falso".
Por qual motivo estariam duvidando de sua autenticidade? O recado teria sido deixado pela mesma moça do calçadão? Esses questionamentos permaneceram por algum tempo, mas foram perdendo a força. Até que veio o nhoque da fortuna.
Ao sair para jantar com amigos, no dia 29, ele foi o único a pedir o tal nhoque que traz a sorte. Na hora de comer, lembrou que a tradição mandava colocar um dólar sob o prato. Entre risos, simulou o ritual. Embaixo do prato encontrou um bilhete.
Desdobrou o papel e viu apenas uma palavra: "falso". O garçom contou que uma moça havia pedido aquilo, antes de ir embora. Isso já era demais. Alguém estava querendo embaraçá-lo. Mas quem poderia ser?
Passou o jantar encafifado. Quando terminou, quis caminhar entre o Leme e Copacabana, tomar um pouco de ar. Voltou pela Atlântica. Duas quadras depois, enxergou uma mulher parecida com a tal corredora.
Resolveu segui-la, mesmo quando entrou em uma das boates enigmáticas do posto dois. Envolvido pela penumbra, convidou uma das moças para dançar. Assim poderia procurar a outra sem dar na vista.
A parceira percebeu que ele estava desatento e o atraiu com um sorriso meigo. Os dois se abraçaram. Trocaram palavras com carinho e continuaram a dançar por muito tempo. Ao final da noite, o rapaz pensou em ser gentil e disse que gostaria de revê-la. Ela sussurrou em seu ouvido: "falso".
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas E-mail: acafaria@uol.com.br |