Pensata

Antonio Carlos de Faria

03/10/2002

O dançarino

O próximo presidente continuará um candidato, mesmo depois de eleito, pois todos os atuais concorrentes dizem querer ser uma espécie de clone de Juscelino Kubitschek.

JK foi notório por vários fatores, entre eles a capacidade de animar o Brasil a ir além do que era considerado possível e de conseguir implementar o seu plano de governo, atravessando crises constantes.

Também foi um excelente pé-de-valsa, abrilhantando bailes por todo o país. Talvez por isso a campanha eleitoral devesse incluir um concurso de dança entre os presidenciáveis, que mostrariam se não correm o risco de tropeçar nos próprios pés.

Por fim, o ex-presidente tinha o costume de gastar mais do que dispunha nos cofres do Estado.

Numa visão otimista, dessas características de Juscelino, o genérico que vamos eleger só não poderá repetir a última.

É um pressuposto o fato de que todos já aprenderam os altos custos de um processo inflacionário e que é no mínimo temeroso querer financiar o crescimento econômico aumentando os turnos da Casa da Moeda.

Além disso, o futuro presidente vai alçar vôo com as asas podadas. Em seu caminho, já há um programa de restrições criado pelo governo atual, em acordo com o FMI. Claro que se pode lembrar que JK rompeu relações com o organismo, em 1959, mas é muito mais delicado imitar essa façanha nos dias atuais.

Sem poder imprimir dinheiro, o candidato a novo JK deverá se desdobrar em copiar o desempenho de seu modelo como animador da nação.

Muito mais do que manipular artifícios de imagem, como fez Collor -outro admirador de Juscelino-, o futuro presidente precisará demonstrar ações concretas, consolidando no país a confiança de que é possível superar os problemas conjunturais e dar cabo dos abacaxis históricos.

Qual dos presidenciáveis tem esse perfil? Com o concurso de dança seria mais fácil decidir. Aí os concorrentes iriam provar qual deles é o mais desenvolto e se aproxima de outras qualidades de JK, sua capacidade de se divertir e enxergar perspectivas, mesmo nos horizontes mais sombrios.


Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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