Pensata

Antonio Carlos de Faria

31/10/2002

Se Galeano pôde, Lula também pode

O futebol, ontem, cumpriu mais uma vez seu papel de metáfora da vida. Os poucos que devem ter visto o clássico entre os decadentes Palmeiras e Botafogo presenciaram um dos momentos mais catárticos do esporte: a perda de um pênalti.

Para ampliar a intensidade da cena, não foi um pênalti qualquer. Galeano, que jogou pelo Palmeiras por 13 anos, ontem defendia o Botafogo e assumiu a responsabilidade pela cobrança da falta máxima cometida contra seu novo clube. Aparentando calma, posicionou a bola, olhou para os imensos espaços vazios em torno do goleiro e chutou. O tiro saiu pela lateral, distante da meta.

Teria sido um erro dramático, revelador dos embates pessoais de um jogador. Porém as circunstâncias tornaram o erro trágico, pois a derrota significou para o Botafogo um passo decisivo para o rebaixamento.

Por que Galeano errou? O mais óbvio é apontar a influência do fator emocional, um conflito em relação ao antigo e ao atual clube. Mas por mais que se discuta, a síntese do debate será a de que errar faz parte do jogo.

O erro de Galeano era uma possibilidade já no momento em que ele decidiu cobrar o pênalti. Há também os erros que acontecem por influência do imponderável. Além desses dois tipos, existem os atos falhos, que propriamente não podem ser chamados de erros, pois no fundo são manifestações de desejo.

Outras classificações podem ser tentadas para o erro, que pode emanar de qualquer pessoa. Mesmo daquelas que dizem não ter o direito de errar, como fez Lula durante sua campanha à Presidência.

Cedo ou tarde, cada um se vê na frente do gol e sabe que tem duas possibilidades: acertar ou errar. O futuro presidente também pode cometer erros e nem se discute se ele tem ou não direito a isso. Nesse, como em outros casos, é bom recurso usar o senso comum: errar é humano.

Já houve um presidente que afirmava ter apenas uma bala para matar o tigre da inflação. Do alto de sua empáfia, Collor, queria convencer o país de sua infalibilidade, copiando atributo que só o papa reivindica, e mesmo assim, apenas entre seus crentes.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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