Pensata

Antonio Carlos de Faria

13/02/2003

Liberdade e luta

Da mesma forma que o choro de Lula não deveria causar surpresas _assunto desta coluna na semana passada_ também não há motivo para estranhar que um governo tão cheio de trotskistas renegue um esperado perfil radical.

Trotsky, estrategista político com amplos interesses culturais, acabou sendo neutralizado no processo de consolidação da Revolução Russa por Stalin, um homem obstinado cujo ponto forte nunca foi o brilho intelectual.

Numa transposição para o cenário brasílico, aconteceria algo semelhante se um líder carismático de origem humilde colocasse no chinelo um acadêmico da USP. Uma situação que russos e brasileiros provaram ser possível.

Trotsky logo percebeu a natureza burocrática do Estado socialista que era preconizado por Stalin, daí formulou sua teoria da revolução permanente. Foi assassinado sem que suas idéias ganhassem a chance de uma prova prática -e quem sabe seja essa a causa de que ainda tenham seguidores.

Trotskistas _e ex-trotskistas, talvez até os já liberados do condicionante coletivo_ mantêm essa utopia mal definida de que é possível um socialismo diferente daquele que o mundo conhece.

Por insistirem no sonho, acabaram sendo taxados de radicais por outros esquerdistas conformados.

O fato de manterem-se avessos aos dogmatismos faz os trotskistas serem mais aptos a absorver e mesmo a formular políticas alternativas. Isso em qualquer situação, o que os torna quase sempre dirigentes criativos.

É o que estão tentando fazer no governo do presidente Lula, que, ao contrário de Stalin, resolveu aproveitar-lhes o transbordamento de energia onírica.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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