Pensata

Antonio Carlos de Faria

13/03/2003

Depois do Carnaval

Dessa vez não vi os soldados do Exército nas ruas do Rio, embora os jornais e TVs tenham mostrado que eles estiveram por aqui.

Não fosse pelo episódio trágico de uma morte em uma blitz, ficaria com a impressão de que os soldados só apareceram para as fotos e filmagens. Igual a essas mulheres fictícias que desfilam no Carnaval e somem no resto do ano.

O fato é que os soldados estão voltando aos quartéis, pois, afirmam os governos, não é missão dos mesmos fazer o serviço de polícia. Há controvérsias, diria um dos personagens de um antigo programa de humor.

Os que defendem a presença dos soldados nas ruas brandem a Constituição para afirmar que essa é uma das atribuições das Forças Armadas.

Mas convenhamos que se trata de uma solução emergencial, que deve durar apenas o tempo necessário para se retomar o controle da situação.

Afinal os soldados foram treinados para a defesa de nossas fronteiras, para fazer a guerra, repelir ataques externos e não para caçar quadrilhas de criminosos.

Então, por que não intensificar o uso das Forças Armadas na função específica de guardiões dos limites do país? O governo da União há muito conhece as portas de entrada de drogas e armas no Brasil.

A Polícia Federal e organismos internacionais vivem rastreando esses roteiros. Há milhares de quilômetros de fronteiras terrestres e marítimas, portos e aeroportos sem vigilância. Sobra trabalho para os militares fora de áreas urbanas.

Se há poucos recursos disponíveis, que se faça uma opção pelo combate prioritário ao tráfico de armas, que muitas vezes tem os próprios arsenais do Estado como fonte fornecedora.

O tráfico de drogas sem armamentos poderosos e sofisticados ficaria em uma situação muito mais passível de domínio pelas forças policiais. Sua existência estaria mais próxima de um problema de saúde pública do que de segurança.

Esse cenário pode parecer algo tão difícil de se ver na vida real quanto uma daquelas madrinhas de bateria de escola de samba.

Mas, recorrendo a uma das mais belas proposições da filosofia, se quisermos alcançar um mundo melhor é preciso passar a agir como se nele já estivéssemos vivendo.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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