Pensata

Antonio Carlos de Faria

20/03/2003

A guerra dos machos

A guerra no Iraque mal começou e já há dois vencedores incontestáveis: Bin Laden e Xico Sá.

O terrorista conseguiu a façanha de ver o inimigo se rebaixar a seu nível de selvageria. Bin Laden deve estar comemorando o desmoronamento da ONU, depois de ter reduzido o World Trade Center a pó.

Por outro lado, expressão que comporta duplo sentido, Xico Sá lançou seu livro de crônicas repletas de erotismo, princípio que perpetua a vida. Casualmente, a festa carioca foi na mesma hora em que os Estados Unidos começaram a espalhar a morte em Bagdá.

Bush não parece ter vivido cenas lúbricas como as descritas no livro "Modos de Macho & Modinhas de Fêmeas - A educação sentimental de um homem".

O presidente texano, travado pelo puritanismo fundamentalista, está longe de ter o jogo de cintura de um sertanejo cearense contemporâneo, cuja arquitetura afetiva é desnudada por Xico Sá.

Talvez o mundo fosse outro se o menino Bush Jr. tivesse conhecido as bananeiras, as cabras e as damas prestadoras de serviço, elementos de introdução à vida sexual no vale do Cariri e em outras paragens de nossa memória coletiva.

Xico escreve com humor e irreverência sobre a sexualidade, a ponto de narrar por meio de terceiros que o ato sexual não é lá essas coisas, confissão enviesada de que nada pode completar um homem, por mais onipotente que ele se imagine.

Aliás, para curar a ilusão da onipotência -e, quem sabe, livrar do medo da impotência-, o melhor remédio é ser traído, reza o escárnio nordestino. Para Xico Sá, os chifres têm função pedagógica, pois humanizam o portador.

Nada mais distante dessa saudável ironia do que a arrogância de se descrever em uma missão divina para salvar o mundo dos demônios. A guerra de Bush se desmoraliza tanto por seus discursos, quanto por suas não-assumidas motivações econômicas.

Bin Laden pode até processar o presidente norte-americano por plágio, alegando que já havia reivindicado esse papel de louco na comédia humana.

Xico Sá dedica sua obra às mulheres, nas quais sempre vê alguma beleza.

Essa devoção o capacita a desvendar a influência de duas mulheres sobre as decisões recentes da Casa Branca: Mônica Lewinsky, a estagiária que fez história no governo Clinton; e Condoleezza Rice, a atual conselheira de Segurança Nacional, conhecida como a "arma secreta de Bush".

Fica aí o pedido ao autor. Esperamos a resposta.


"Modos de Macho & Modinhas de Fêmea - A educação sentimental de um homem" (editora Record, 156 páginas, R$ 29)
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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