Pensata

Antonio Carlos de Faria

10/04/2003

Os neandertais contra-atacam

Na semana passada, o tema da extinção dos neandertais foi um pretexto para esta coluna abordar outra vez a maldade intrínseca do ser humano. Entre as reações de leitores, as mais exaltadas negaram que o homem seja mau e lamentaram não ter sido este jornalista a vítima da extinção.

Calma lá, gente. Não sejam tão maus a ponto de desejarem essa crueldade. Desde os tempos em que o homo sapiens tinha como argumento final o uso do porrete, a humanidade já evoluiu um pouco e admite a existência de conceitos divergentes.

Está bem, há um certo exagero em falar que a humanidade toda aboliu o uso do porrete, o gosto pelas medidas coercitivas. Basta ver a recente onda de autocensura da imprensa dos Estados Unidos na cobertura da guerra no Iraque ou as condenações de cerca de 80 pessoas, em Cuba, acusadas de crimes contra o Estado por estarem pedindo liberdade política.

Nesses dois casos, é difícil apontar o mais vergonhoso. A antiga democracia norte-americana vê como ameaça as críticas contra sua presunção de agir como polícia do planeta. Já a casta burocrática que controla os cubanos aproveita o fato de o mundo estar fixado na guerra para encarcerar seus opositores.

Diante desse quadro de mediocridades, volta a pergunta que não quer calar. O que aconteceu aos neandertais?

Entre os leitores que não propuseram a extinção do colunista -poucos, mas com grande poder lenitivo-, um apontou como coincidência intrigante o fato de os primeiros conflitos entre os neandertais e os homo sapiens terem se dado na região em que hoje está o conflagrado Oriente Médio.

Essa observação transparece também no e-mail do leitor Zé Alves, que questiona se o choque entre as duas espécies de primatas não teria sido a origem do relato bíblico sobre o primeiro assassinato, no qual Caim mata Abel. Os dois são filhos de Adão e Eva, expulsos do Jardim do Éden, que os estudiosos apontam como tendo sido localizado em algum ponto do sul iraquiano.

A leitora, que se identifica como Alanista, deixa de lado tanto belicismo e lembra a hipótese de os neandertais terem sido assimilados por via da "confraternização" sexual e de serem hoje tão nossos antepassados quanto os homo sapiens. Essa é uma versão recorrente, mas contestada por pesquisas genéticas, que não encontram traços dos neandertais em nossa atual constituição.

Curiosa é a opinião de um autodenominado pesquisador ufológico. Ele recorda que uma das grandes aspirações humanas é descobrir formas de vida inteligente em outros planetas e há quem afirme ser isso impossível. Os neandertais, diz ele, são a prova de que até mesmo no nosso mundo já existiu uma alternativa aos homens. Faz sentido.
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas

E-mail: acafaria@uol.com.br

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