Antonio Carlos de Faria
25/04/2003
-Como vai, Sebastião, meu velho! Quais são as novas?
-Jorge, Jorge, os séculos passam e você sempre jovial, parabéns...
-Pois é. Tenho aproveitado a eternidade para manter a forma. Nunca se sabe quando poderemos ser invocados para algum serviço pesado, não é mesmo?
-Nem me fale. Cheguei agora de São Sebastião do Rio de Janeiro. A coisa está tensa por lá. A governadora até colocou o marido como secretário de Segurança.
-E eu não sei? Aquilo está do jeito que o diabo gosta, com o perdão pela má palavra.
-Já foi um paraíso. Lembra das vedetes do teatro de revista... Jorge, elas eram uns anjos na face da terra.
-Sebastião, anjos não têm sexo e a Luz Del Fuego era a própria personificação do pecado. Mas esse tempo já vai longe. Hoje, criaram até um feriado em minha homenagem. Querem que eu derrote o dragão da violência.
-Quem diria. Nós dois, guerreiros do Império Romano, agora somos chamados para fazer a paz entre os cariocas...
-Sebastião, essa nossa conversa veio a calhar. Eu estava mesmo querendo te encontrar. Você nunca pensou em reciclar sua imagem? Quem sabe contratar um personal stylist, renovar o guarda-roupa...
-Como assim?
-Sem querer ofender, sua imagem pode estar influenciando o inconsciente dos cariocas e levando-os ao martírio. Pense bem. Você é o padroeiro do local e eles ficam ali adorando aquela representação em que você aparece seminu, amarrado, com os olhos para o céu, cheio de flechas pelo corpo. Tem um certo ar masoquista nisso...
-Fala sério, Jorge! Logo você que sempre está espetando um pobre animal com uma lança. Já pensou que isso pode ter contribuído para a extinguir os dragões? E tem mais, teus conselhos são suspeitos, tem gente que nem te reconhece como santo.
-Péra lá. O que importa é o reconhecimento do povo. Todo mundo sabe que a voz do povo é a voz de...
-Não diga o santo nome em vão!
-Tá bom, Sebastião... Vamos mudar de assunto. Não vamos nos influenciar pelos conflitos dos homens. Falemos de coisas mais amenas.
-Concordo... Por falar nisso, você sabe por onde anda a Luz Del Fuego?
Santo debate
Numa dessas tardes metafísicas, são Jorge distraidamente quase esbarra em são Sebastião, no céu. Há tempos que não se viam e ambos acabam de voltar de uma visita ao Rio de Janeiro.-Como vai, Sebastião, meu velho! Quais são as novas?
-Jorge, Jorge, os séculos passam e você sempre jovial, parabéns...
-Pois é. Tenho aproveitado a eternidade para manter a forma. Nunca se sabe quando poderemos ser invocados para algum serviço pesado, não é mesmo?
-Nem me fale. Cheguei agora de São Sebastião do Rio de Janeiro. A coisa está tensa por lá. A governadora até colocou o marido como secretário de Segurança.
-E eu não sei? Aquilo está do jeito que o diabo gosta, com o perdão pela má palavra.
-Já foi um paraíso. Lembra das vedetes do teatro de revista... Jorge, elas eram uns anjos na face da terra.
-Sebastião, anjos não têm sexo e a Luz Del Fuego era a própria personificação do pecado. Mas esse tempo já vai longe. Hoje, criaram até um feriado em minha homenagem. Querem que eu derrote o dragão da violência.
-Quem diria. Nós dois, guerreiros do Império Romano, agora somos chamados para fazer a paz entre os cariocas...
-Sebastião, essa nossa conversa veio a calhar. Eu estava mesmo querendo te encontrar. Você nunca pensou em reciclar sua imagem? Quem sabe contratar um personal stylist, renovar o guarda-roupa...
-Como assim?
-Sem querer ofender, sua imagem pode estar influenciando o inconsciente dos cariocas e levando-os ao martírio. Pense bem. Você é o padroeiro do local e eles ficam ali adorando aquela representação em que você aparece seminu, amarrado, com os olhos para o céu, cheio de flechas pelo corpo. Tem um certo ar masoquista nisso...
-Fala sério, Jorge! Logo você que sempre está espetando um pobre animal com uma lança. Já pensou que isso pode ter contribuído para a extinguir os dragões? E tem mais, teus conselhos são suspeitos, tem gente que nem te reconhece como santo.
-Péra lá. O que importa é o reconhecimento do povo. Todo mundo sabe que a voz do povo é a voz de...
-Não diga o santo nome em vão!
-Tá bom, Sebastião... Vamos mudar de assunto. Não vamos nos influenciar pelos conflitos dos homens. Falemos de coisas mais amenas.
-Concordo... Por falar nisso, você sabe por onde anda a Luz Del Fuego?
Antonio Carlos de Faria é jornalista e vive no Rio de Janeiro. Escreve para a Folha Online às quintas E-mail: acafaria@uol.com.br |