Pensata

Valdo Cruz

12/08/2008

Voto de pobreza

Não, não estou falando de nenhuma ordem religiosa, daquelas que exigem de seus membros o voto de pobreza, o total desprendimento de bens materiais. Estou querendo falar é do que os candidatos a prefeito andam dizendo por aí, em tom queixoso, sobre a arrecadação de contribuições de campanha. Um político me disse que nessa eleição os candidatos parecem ter feito voto de pobreza, estão de bolsos vazios, até agora estaria faltando dinheiro para deslanchar a busca de apoios.

Motivo principal: o empresariado está muito ressabiado. Tem reclamado com lideranças políticas que, se fazem doação oficial, logo depois da eleição vem a imprensa e logo diz: empresa tal bancou campanha de prefeito e agora leva obras na cidade. Fica tudo carimbado. E a companhia financiadora sai com fama ruim do negócio. E se a empresa decide fazer doações por debaixo dos panos, o famoso caixa dois, aí vira alvo da Polícia Federal e pode acabar nas páginas de jornais em um novo escândalo de corrupção.

Se a choradeira procede ou não, veremos ao longo da campanha. Até aqui, porém, esse é o discurso de muita gente, está faltando dinheiro. Um senador ouviu de um grande empresário o seguinte: nessa eleição vai fazer doações para uns três políticos com os quais tem boa relação e ponto final. Nada de distribuir grana para outros políticos, aqueles que sempre batem na porta de famosos financiadores de campanha, os que costumam pingar um dinheirinho para todos candidatos. Coisa comum em eleições passadas. Há quem aposte que até para os candidatos favoritos a eleição não será tão generosa. Também eles terão de conviver com um caixa menos recheado. Se tudo isso se confirmar, os candidatos terão de esquentar o gogó e fazer mais comícios nessa eleição, caminhar mais pelas ruas. Como se trata de uma eleição municipal, não chega a ser uma missão impossível.

Bem, se a penúria realmente se concretizar, de fato, muito político vai voltar a Brasília, ao final das eleições, disposto a votar algo que a classe tem postergado sempre: a votação de uma reforma política. E esses políticos vão querer aprovar rapidinho o financiamento público das campanhas. Se isso acontecer, que eles tenham um pouquinho de vergonha e também aprovem fidelidade partidária e outras medidas moralizadoras. Senão, será, mais uma vez, legislar em causa própria.

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Nem pensar

Se dependesse apenas da Petrobras, a estatal ficaria responsável pela exploração de todo petróleo localizado na camada de pré-sal. Mas isso, como diz um ministro, nem pensar. Agora, a criação de uma nova estatal para administrar a riqueza contida no pré-sal, isso não conta com o apoio unânime dentro do governo. Tem muita gente que avalia ser politicamente complicado vender a idéia de mais uma estatal. Mesmo com o discurso de que seria uma empresa bem enxuta, com poucos funcionários. Uma das propostas em estudo seria criar um fundo governamental para cumprir esse papel. Num modelo que procurasse atrair mais empresas para participar dos investimentos na exploração do pré-sal. E, com certeza, a Petrobras sairia na frente. Ela conhece melhor a região, desenvolveu as melhores pesquisas e já detém uma parcela importante do petróleo do pré-sal. Bem, esse é um debate que só vai esquentar. E envolve muito mais atores do que a Petrobras. Tem muita múlti de olho nos megacampos brasileiros.

Valdo Cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal. Escreve às terças.

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