Pensata

Valdo Cruz

18/11/2008

O lado bom da crise

O agravamento da crise econômica norte-americana, que vai se alastrando pelo mundo a cada dia, esfriou o debate sobre a exploração do petróleo localizado na camada do pré-sal. Antes de a crise ficar aguda, o governo só falava em como maximizar a receita futura do pré-sal. Não estava errado. Só que vieram as turbulências no mercado financeiro e transformaram em pó o crédito internacional. E sem financiamento disponível fica impossível acelerar a exploração do petróleo na costa brasileira.

Em outras palavras, o presidente Lula, que apostava no ouro negro do pré-sal para pisar no acelerador nos dois últimos anos de seu mandato, terá de se contentar, pelo visto, mais em definir as regras da exploração do petróleo do que lucrar com o negócio. Não bastasse a falta de crédito, a recessão mundial já derrubou o preço do petróleo e vai representar menos demanda pelo combustível. Mais motivos para alongar os prazos dos projetos de extração do óleo do pré-sal.

Bem, mas há um lado bom dessa crise sobre as relevantes descobertas de petróleo no Brasil. Como diz um integrante do governo, o debate agora tende a ser mais racional e mais centrado. Antes da crise, todo mundo já estava querendo gastar por conta. O Ministério da Cultura queria um naco da receita do pré-sal. O da Educação também. A turma da infra-estrutura, da saúde. E tudo isso num planejamento preliminar que indicava um início de produção em escala comercial depois de 2014, 2015. Ou seja, tinha muita gente sonhando com uma grana que iria jorrar nos cofres públicos só lá no final do mandato do sucessor do presidente Lula. Agora, esse cenário terá de ser redesenhado, postergado em no mínimo dois anos, prazo que os mais realistas calculam necessário para a economia mundial se recuperar de fato.

Animador de auditório

Vêm aí, nos próximos dias, os novos cenários que o governo irá encaminhar ao Congresso para montagem do Orçamento da União de 2009. Virá uma revisão do crescimento econômico esperado para o ano que vem. A proposta original registra uma expectativa anterior à crise, de 4,5%. Essa meta, infelizmente, foi para o espaço. O Ministério da Fazenda quer incluir na revisão um número ainda irreal, de 4%. Seu objetivo é tentar evitar uma propagação de um clima de pessimismo que possa contagiar até aqueles que, mesmo na crise, ainda têm bala na agulha. Ou seja, têm dinheiro para gastar ou investir, mas podem desistir dos seus planos se ficarem totalmente convencidos de que tudo será muito pior do que o imaginado.

Nos cálculos mais realistas do governo, a taxa de crescimento fica entre 3% e 3,5% no ano que vem. Mais perto de 3%. Possivelmente 3%. Até algumas semanas atrás, o Ministério do Planejamento pretendia incluir oficialmente na revisão dos cenários um crescimento de 3,8%. Mas está fazendo novos cálculos. A conferir.

Valdo Cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal. Escreve às terças.

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