Pensata

Valdo Cruz

22/09/2009

Leituras sobre Dilma

Os tucanos gostaram. Os petistas também. Quando se agrada aos dois lados, diria, algo deve ter saído errado. Acho, porém, não ser o caso. Trata-se da leitura que cada lado fez, de acordo com seu gosto, da entrevista que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) concedeu à Folha. Nela, a pré-candidata petista à sucessão do presidente Lula ataca o Estado mínimo, prega um Estado forte como indutor do crescimento econômico e defende as incursões do chefe sobre o setor privado.

Os petistas gostaram porque ali estava a síntese do seu pensamento partidário, de um governo com forte presença na economia, tentando ditar os rumos do empresariado. Pensamento que não prevaleceu no primeiro mandato de Lula, mas que dominou o segundo, quando Dilma passou a ser a principal auxiliar do governo.

Os tucanos gostaram porque, na entrevista, a ministra revela seu estilo estatizante e "intervencionista" --pecha que ela refuta, mas que o PSDB tentará colar em sua imagem. Um estilo que, em conversas reservadas, tucanos dizem que pode assustar o empresariado e outros grupos de formadores de opinião.

O problema, para alguns, ou solução, para outros, é que os ventos da economia internacional estão soprando, pelo menos nesse momento, a favor de um Estado mais presente nos rumos econômicos. É consenso mundial que a crise financeira atingiu as proporções que vivemos por conta da omissão de governantes, principalmente dos Estados Unidos e Europa. Nisso, não há como discordar.

O que fará a diferença, daqui para a frente, é a dosagem dessa presença do Estado na economia. Ou, em outras palavras, quanto irá pesar a mão estatal sobre o setor privado. Ultrapassado um limite tolerável, o que poderia ser positivo passará a funcionar como desestímulo, que resultará em ineficiência no médio ou longo prazos.

O perigo, hoje, é vivenciarmos o mesmo fenômeno observado em anos recentes, quando tudo que não fosse o caminho neoliberal era burro e estúpido. Deu no que deu, na pior crise financeira desde 1929. Agora, o risco é satanizarmos totalmente o mercado e passarmos a endeusar o viés estatizante. A conferir. O detalhe é que os resultados de desastres econômicos só são percebidos anos depois em que foram construídos. Aí, começamos um outro ciclo. Seria bom, pelo menos dessa vez, evitar erros do passado. Repetindo, a conferir.

Valdo Cruz

Valdo Cruz é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal. Escreve às terças.

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