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Terça-feira, 13 de junho de 2000

Kobe, Schmidt
e a fome

Melchiades Filho
     
Diego Medina

A fome fez de Kobe Bryant um jogador diferente e que faz diferença.
Aos 21 anos, é ele, e não o celebrado pivô Shaquille O'Neal, o fiel da balança que vai definir o último campeão do século.
A contusão do precoce armador devolveu o equilíbrio às finais da NBA. Antes que ele machucasse o tornozelo esquerdo, todos davam como certa uma conquista fácil do Los Angeles Lakers.
Sem Bryant, porém, o time californiano perdeu a criatividade no
ataque e a intensidade na defesa. Foi o que se viu no domingo,
quando o Indiana Pacers se aproveitou para diminuir a desvantagem no mata-mata pelo título.

Os Lakers não sabem se ele poderá atuar amanhã. Também na
expectativa, a coluna de hoje vai tratar desse interessante
personagem, que, aos 17 anos, pulou da escola para a NBA, sem
passar pelas universidades, a trilha da maioria dos profissionais.
Desde então, Bryant mostra uma obsessão de compensar esse
buraco da "vida acadêmica".

Nos treinos do último All-Star Game, por exemplo, enquanto os
demais entretinham a platéia de Oakland com enterradas, ele pedia "aulas particulares" a Gary Payton. O professor, hoje o mais
completo armador da NBA e exímio marcador, repetia ao pupilo
truques de defesa.

Com a mesma cara-de-pau, Bryant telefonara para Michael Jordan
poucos dias após a aposentadoria do superastro. O papo seguiu o
roteiro "sinto muito, boa sorte, lembrança às crianças" até
desembocar em um pouco protocolar "você me ensina aquele
arremesso?"
Esse topete, do "perguntar não ofende", Bryant adquiriu na infância, quando o pai, Joe "Jellybean", um ala mediano, mudou-se para jogar na Itália.

Kobe cresceu com a bola laranja, mas longe das referências das
demais estrelas de hoje do esporte. A TV italiana exibia poucas
partidas da NBA. E o torneio norte-americano tinha acabado sempre que o menino viajava para os EUA nas férias escolares. Daí a razão para tanta curiosidade.
Por conta do que lia e ouvia, Bryant ainda tentou nutrir uma
admiração por Magic Johnson, armador que maravilhou os Lakers nos anos 80. Mas seus ídolos de verdade, aqueles que viu e emulou na virada da década, estavam desgarrados da NBA.
E quem foram essas pessoas?

- Meu pai foi meu primeiro mestre. Ele me ensinou a pegar na bola, a protegê-la...
Quem mais?

- Brian Shaw...
Que hoje é seu companheiro no Los Angeles Lakers - e que ensinou o jovem Kobe a driblar entre as pernas e a usar o corpo nos arremessos de longa distância.

-...Michael Ray Richardson...
Que estragou uma promissora carreira na NBA nos anos 80 por causa do vício em cocaína - e que ensinou o jovem Kobe a tomar conta do preparo físico.

- ...Michael Cooper...
Que também brilhou nos Lakers da década de 80 - e que ensinou o jovem Kobe a tomar gosto pela defesa, pelo desarme.

- ...e Oscar Schmidt.
Que reinava no basquete italiano, derrubando recorde atrás de
recorde - e que ensinou o jovem Kobe a ter (muita) fome de cesta.
E que ainda está jogando.
- Não diga!
Sim, e um bolão. Marcou 50 pontos ontem.
- Uau! Meu herói!



NOTAS

Bryant 1
O nome do jogador surgiu de uma viagem - e de um jantar
memorável - de seus pais: Kobe é uma região do Japão conhecida por criar um tipo de gado cuja carne, caríssima, é bastante apreciada no país.

Bryant 2
As desavenças pessoais entre o armador e Shaquille O'Neal, que
atrapalharam muito os Lakers na temporada passada, parecem ter
sido superadas. Por conta da contusão no tornozelo, é o pivozão
quem tem ajudado o colega a se deslocar pelo ginásio do Indiana
-carregando-o de "cavalinho".

Bryant 3
O ala Grant Hill (Detroit), que se recupera de uma cirurgia no
tornozelo, deve anunciar nas próximas semanas que não vai mais
competir na Olimpíada de Sydney. Em Indianápolis, corre solto que a NBA já escolheu Bryant para a vaga - e que só espera o final dos playoffs (e a festa em torno dos "campeões" Lakers) para formalizar a convocação.




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