Publifolha
04/03/2007 - 09h21

Octavio Frias de Oliveira: "Brasil: Um País Aberto"

da Folha Online

Depoimentos e palestras de 26 jornalistas e intelectuais brasileiros estão reunidos em "Um País Aberto: Reflexões sobre a Folha de S.Paulo e o jornalismo contemporâneo", livro da Publifolha sobre a história do jornal e temas atuais do jornalismo --econômico, on-line, cultural-- e a relação entre imprensa e pesquisas de opinião.

Leia abaixo o texto da obra assinado pelo empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S.Paulo, que morreu no dia 29 de abril de 2007. O relato fez parte do ciclo de seminários de 2002 da Cátedra de Jornalismo Octavio Frias de Oliveira, mantida pela UniFiam-Faam.

Também estão disponíveis para leitura os artigos "Um pai puritano e iluminista", de Otavio Frias Filho; "Independência: formidável artigo jornalístico", de Clóvis Rossi, e "Empresário primoroso, jornalista completo", de Boris Casoy.

BRASIL: UM PAÍS ABERTO

25 de fevereiro de 2002

Ministro [da Educação, 1995-2002] Paulo Renato, sr. diretor, srs. professores, senhoras e senhores, meus amigos.

Não sou muito afeito a discursos nem a solenidades. Considero que a reunião desta noite traduz uma distinção que aceito com alegria, mas que não julgo merecida. Circunstâncias da vida me levaram a trabalhar desde muito cedo. Por essa ou por outras razões, nunca tive o privilégio de freqüentar cursos universitários.

Receber o título que vocês me outorgam hoje é, assim, algo que me deixa muito sensibilizado. Mas não exatamente envaidecido. A esta altura da vida, concordo mais do que nunca com o poeta [Rudyard] Kipling quando chamou o sucesso e o fracasso de "esses dois impostores".

As palavras dos oradores encarregados da saudação, conforme a praxe nestas ocasiões, me deixaram desvanecido. Em sua generosidade, elas refletem a amizade e o companheirismo que nos unem há muitos anos.

Não sou jornalista nem, muito menos, um teórico das comunicações. Sempre fui, por temperamento, um homem prático e, por vocação, um empresário que os acasos da existência levaram, 40 anos atrás, ao ramo da imprensa.

Nesse setor, que hoje posso chamar de nosso, procurei erguer valores, gerar empregos, construir riquezas. Contei com a colaboração de companheiros preciosos, vários deles aqui presentes, entre os quais meus filhos Otavio e Luís. Prefiro ver nesta homenagem um reconhecimento ao trabalho de todo o grupo de pessoas que me ajudaram na aventura profissional de fazer da Folha um grande jornal. Um jornal do qual pudéssemos nos orgulhar pelos serviços prestados ao país e à comunidade.

Não digo que nossos objetivos tenham sido plenamente atingidos. Sempre há e haverá muito a fazer. Mas tenho a convicção de que muito já foi feito e de que estamos no caminho certo. Ainda não praticamos, no Brasil, o jornalismo de meus sonhos. Mas a situação evoluiu muito favoravelmente ao longo destas décadas.

Meu testemunho sobre o desenvolvimento do Brasil é semelhante. Ainda temos problemas imensos a enfrentar. Vivemos num país que continua sendo pobre e no qual uma parcela expressiva da população não tem meios de viver dignamente e de desenvolver seus potenciais criativos.

Mas, para quem viu as crises a que assisti, o saldo não poderia deixar de ser de um otimismo moderado. Com todos os percalços, o Brasil cresceu e progrediu. Alcançamos a normalidade político-institucional, nos quadros de uma democracia hoje sólida. E atingimos a estabilidade da moeda num ambiente de livre mercado.

Eram objetivos que pareciam distantes até pouco tempo atrás. O ritmo de nossa evolução tem sido lento, talvez, mas o avanço me parece consistente e inquestionável.

Receber esta homenagem das mãos de Edevaldo Alves da Silva [nota da redação: presidente das instituições UniFMU, UniFIAMFAAM e Fisp] é algo que me é especialmente grato. Somos duas pessoas que começaram a vida tendo de enfrentar condições adversas. À custa de esforços e angústias que só nós podemos avaliar, conseguimos realizar parte --uma grande parte, eu diria-- de nossos sonhos.

Somos exemplos concretos de como o Brasil é um país aberto e que oferece amplas possibilidades a quem estiver disposto a trabalhar com afinco e progredir. O desafio é criar condições para que mais e mais pessoas possam desenvolver suas aptidões e talentos.

Esta é uma casa que completa 30 anos, voltada, como toda instituição universitária, para o futuro e para os jovens. Faço votos de que ela continue a crescer e se aperfeiçoar, convertendo-se em instrumento cada vez mais forte de formação profissional e de difusão do conhecimento.

Muito obrigado.

"Um País Aberto"
Autor: Vários
Editora: Publifolha
Páginas: 204
Quanto: R$ 29
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha.