Reuters
07/08/2002 - 00h00

Velocidade inconstante da luz pode desbancar Einstein

da Reuters, em Sydney

Uma equipe de cientistas australianos sugeriu que a velocidade da luz pode não ser constante, uma idéia que destronaria uma das mais respeitadas teorias da física moderna: a teoria da relatividade, de Albert Einstein.

Comandados pelo físico teórico Paul Davies, da Universidade Macquarie, de Sydney, os cientistas disseram que é possível que a luz tenha perdido velocidade ao longo de bilhões de anos.

Se for assim, a ciência precisará rever suas idéias básicas sobre as leis que regulam o universo. "Isso significa abandonar a teoria da relatividade e o E-mc2 (a equação que define tal teoria) e todas essas coisas", disse Davies.

"Mas é claro que isso não significa que vamos jogar todos os livros na lixeira, porque é da natureza da evolução científica que as velhas teorias sejam incorporadas às novas", afirmou.

Davies e sua equipe publicaram os resultados de sua pesquisa na edição de 8 de agosto da revista "Nature".

A idéia da mudança na velocidade da luz é baseada em dados do astrônomo John Webb, que descobriu que a luz de um distante quasar (objeto semelhante a uma estrela) absorvia o tipo errado de fótons das nuvens interestelares durante sua viagem de 12 bilhões de anos até a Terra.

Segundo Davies, as observações de Webb significam que fundamentalmente a estrutura dos átomos que emite luz dos quasares tinha uma diferença leve, porém significativa, em relação aos átomos que formam os seres humanos.

A discrepância só poderia ser explicada se a carga do elétron, ou a velocidade da luz, fosse modificada.

"Mas duas das leis mais prezadas do universo dizem que a carga do elétron não pode mudar e que a velocidade da luz não pode mudar, então para qualquer lado que olhemos temos problemas", afirmou Davies.

Para estabelecer qual das duas constantes não merece esse nome, Davies recorreu ao estudo dos buracos negros, misteriosos corpos celestes cuja gravidade "suga" estrelas. Ele também aplicou outro dogma da física, a segunda lei da termodinâmica, que Davies explica assim: "Não se pode conseguir alguma coisa a partir do nada."

Davies e seus colaboradores consideraram que a mudança na carga do elétron violaria a segunda lei da termodinâmica, e concluíram que portanto só sobrava a alteração na velocidade da luz.

Ainda são necessários novos estudos da luz dos quasares para validar as observações de Webb e comprovar que, como sustenta Davies, a teoria da relatividade começa a apresentar rachaduras.

As implicações disso ainda não são claras. "Quando um dos pilares da física desaba, não é claro a que se aferrar e o que descartar", disse Davies. "Se o que estamos vendo é o começo de uma mudança de paradigmas da física, como aconteceu há cem anos com as teorias quântica e da relatividade, é difícil saber que tipo de concepção terá."

A teoria da relatividade levou os cientistas a determinarem a velocidade da luz em 300 mil quilômetros por segundo.

É possível que a mudança na velocidade da luz só tenha implicações para o estudo do universo em larga escala, suas origens e sua evolução. Por exemplo, a luz "variável" poderia explicar por que duas partes do universo, distantes e sem relação entre si, podem ser muito similares, mesmo que segundo as teorias convencionais a luz ou outras forças não tenham tido tempo para passar entre elas.

Mas também pode haver, segundo Davies, resultados mais práticos para os humanos. "Por exemplo, há uma lei que diz que nada pode ir mais rápido do que a luz, mas pode ser possível superar essa restrição, o que iria animar os fãs de 'Jornada nas Estrelas', porque no momento, até mesmo à velocidade da luz seriam necessários 100 mil anos para cruzar a galáxia. É meio chato, mas se a velocidade limite da luz mudasse, aí quem sabe? Todas as apostas estão abertas."

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