Reuters
27/12/2001 - 12h58

Acusados pelos EUA, militantes da Caxemira negam rótulo de terroristas

da Reuters, em Muzaffarabad (Paquistão)

Duas organizações islâmicas paquistanesas desafiaram hoje a acusação dos EUA de que eram grupos terroristas e disseram que vão manter a sua "guerra santa" contra a presença indiana na Caxemira.

Ontem, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a inclusão do Lashkar-e-Taiba e do Jaish-e-Mohamad na lista de grupos terroristas, dando força ao pedido indiano para que o Paquistão exerça um controle maior sobre ambos.

"A decisão norte-americana não faz diferença para nós. Não precisamos de um certificado dos EUA para fazer nossa jihad [guerra santa]", disse Aftab Hussain, porta-voz do Lashkar-e-Taiba, em um comunicado emitido em Muzzaffarabad, capital da parte paquistanesa da Caxemira. "Começamos a guerra santa sob ordem de Allah e ela vai continuar", afirmou.

Hussain negou as acusações de que seu grupo tenha participado de atividades terroristas, entre elas a invasão do Parlamento indiano, numa ação suicida que resultou em 14 mortes. "Estamos somente combatendo o terrorismo indiano na Caxemira", afirmou.

Um líder do Jaish-e-Mohammad, Hasan Burki, também questionou a decisão dos EUA, dizendo: "Quem é a América para nos chamar de terroristas? Precisamos preparar os muçulmanos para a jihad. Precisamos mostrar aos norte-americanos e indianos o real poder dos muçulmanos", afirmou.



A Índia pede ao Paquistão que detenha os responsáveis pelos dois grupos. O Paquistão responde que só fará isso se houver provas de que eles participaram do ataque ao Parlamento, no dia 13. O impasse levou os dois países à beira de uma guerra.

É a situação mais tensa em 15 anos entre essas duas potências nucleares, que desde 1947 travaram três guerras -duas das quais pela posse da Caxemira, o único Estado indiano de maioria islâmica.

Anteontem, o Paquistão deteve Maulana Azhar Massod, líder da Jaish, e seus seguidores ameaçaram agir se ele não for solto.

Powell não vinculou os dois grupos ao ataque ao Parlamento, mas disse que eles praticaram vários ataques, dos dois lados da fronteira, na tentativa de expulsar a Índia da Caxemira.

Depois de escolher o Paquistão como seu aliado preferencial na guerra contra o Taleban, os Estados Unidos sabem que alteraram dramaticamente o equilíbrio estratégico no sul da Ásia. Agora, o país tenta freneticamente evitar uma guerra.

Os dois grupos islâmicos estão com suas contas congeladas nos Estados Unidos. Tornou-se ilegal financiá-los. Os EUA também poderão negar vistos a membros das organizações.

Os Estados Unidos publicam a cada dois anos sua lista de organizações consideradas terroristas -a última saiu em 5 de outubro, com 25 grupos. Mas o secretário de Estado tem o direito de fazer acréscimos extraordinários, como ocorreu agora.

Leia mais no especial Conflito Índia-Paquistão
 

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