Reuters
28/12/2001 - 19h05

Clonagem é apenas uma questão de tempo, afirmam cientistas

da Reuters, em Londres

Grupos religiosos estão amedrontados, alguns cientistas o acham inevitável e médicos acreditam que a tecnologia vai apressar a busca por novos métodos para tratar doenças incuráveis.

Goste ou não, a clonagem é um assunto com força para dominar a agenda política, a pesquisa científica, as manchetes dos jornais e as conversas entre amigos nos próximos anos.

Se a clonagem reprodutiva é capaz de transformar casais inférteis em pais, ou se a clonagem terapêutica pode criar embriões para serem usados como fonte de células-tronco pelos cientistas, poucos assuntos provocam reações tão fortes.

A palavra invoca imagens de exércitos de pessoas idênticas, ou de casais desesperados ou pessoas ansiosas para replicar seus amores perdidos.

A notícia que a empresa norte-americana de biotecnologia Advanced Cell Technology (ACT) recentemente clonou um embrião humano foi recebida com controvérsia, ceticismo e o consenso científico que ainda é cedo para tratar o fato como um feito histórico.

Os eventos trágicos de 11 de setembro levaram a clonagem humana e a rapidez da ciência de volta às manchetes e colocaram na mesa que a questão não é "se", e sim "quando".

"Eu acho que é inevitável, infelizmente. Eu dou cerca de cinco anos [para que a clonagem seja realidade]", disse Alan Coleman, da PPL Therapeutics, uma empresa escocesa que ajudou a criar a Dolly, a ovelha clonada, em 1996.

"Há pessoas que vão tentar. Eu acho que [a clonagem] vai se mostrar como um fracasso. Mas meu maior medo é que as pessoas que vão tentar são as menos competentes para fazê-lo. Os mais competentes simplesmente não o farão", disse.

Desafio intelectual

A ACT produziu um embrião de seis células, muito longe sequer de um blastocisto, grupo de 100 a 150 células do qual as células-tronco podem ser extraídas.

Coleman acredita que a ACT foi imprudente ao divulgar a informação e disse que isto confirma a dificuldade de transferir o trabalho realizado em animais para humanos.

A ACT diz que não pretende clonar um humano, mas produzir células-tronco para curar doenças como o mal de Alzheimer, o de Parkinson, diabetes, câncer e Aids.

Outros pesquisadores, incluindo o especialista em fertilização italiano Severino Antinori e o cientista norte-americano Richard Seed, expressaram sua vontade de clonar um humano. Seed acredita que seja impossível barrar a clonagem humana porque este é um grande desafio intelectual.

Coleman e muitos outros cientistas afirmam que, além das questões éticas ou morais, a clonagem é muito perigosa porque o risco de ocorrer abortos e embriões deformados é alto.

Foram precisos muitas tentativas fracassadas antes que ovelhas, gado, ratos, porcos e bodes fossem clonados com sucesso.

"Meu ponto de vista é que, mesmo tornando [o método] seguro, a experimentação envolvida nos procedimentos é por si só imoral. Eu não acho que ninguém deve chegar a um método seguro porque é imoral tentá-lo", disse Coleman.

Um longo caminho

Outros cientistas, incluindo Ann McLaren, do Wellcome CRC Institute, em Cambridge (Inglaterra), acreditam que a clonagem humana reprodutiva ainda está distante por causa da segurança.

"Ninguém vai considerar seriamente a tentativa de clonar humanos até a pesquisa com animais avançar nas linhas de segurança e eficiência", disse.

David King, do grupo de monitoração independente GeneWatch, do Reino Unido, acredita que uma proibição global da clonagem reprodutiva poderia forçar os cientistas a submeter os avanços técnicos.

Robert Terry, da instituição de caridade Wellcome Trust, acha que, mesmo que a clonagem humana torne-se realidade, ela não vai se tornar comum. "A maioria das pessoas parece ter uma reação contrária instintiva, que acho que vai prevalecer", disse.
 

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