Reuters
29/12/2001 - 17h22

Apesar da Argentina, 2002 será bom para bônus emergentes

HUGH BRONSTEIN
da Reuters, em Nova York

Os investidores em bônus de países emergentes recuam quando se menciona a América Latina. Em suas memórias surgem notícias tenebrosas: a recente implosão da Argentina, a desvalorização do real, o calote do Equador em 1999 e o "efeito Tequila'' do México em 1995.

De vez em quando, uma nova crise financeira golpeia esta região e atemoriza ainda mais os investidores, que se afastam em busca de apostas mais seguras

Mas aqueles que mantêm outra das emoções básicas do mercado, a ambição, podem desfrutar de bons rendimentos em 2002, se fizerem suas apostas de forma sensata.

"Uma imagem negativa é criada pelas manchetes sobre colapsos a cada dois ou três anos. Esta não é a melhor publicidade para esse tipo de investimento se você não conhece bem o mercado'', disse Claudia Calich, analista de mercados emergentes da Oppenheimer Funds. "Mas se você começar a diferenciar, os lucros são realmente muito bons.''

Muitos investidores abandonaram os ativos argentinos, país que vive uma grave crise, protegendo o mercado de uma maior contaminação. E uma esperada a recuperação dos Estados Unidos poderá ajudar o vizinho México e ressuscitar a demanda por commodities que são a alma de muitas economias sul-americanas.

"Retornos na casa das dezenas não seriam grande surpresa para o próximo ano, como uma média do mercado,'' disse Mark Siegel, administrador de fundo para mercados emergentes da D.L.Babson & Co., um membro da MassMutual Financial Group.

No entanto, este ano, os bônus soberanos da América Latina não apenas caíram cerca de 15%, mas todo o setor de dívida emergente experimentou uma saída de capitais de em torno de US$ 1 bilhão.

Analistas lembram, contudo, que os investidores que foram perspicazes o suficiente para evitar a perda de 67% dos títulos argentinos ganharam este ano cerca de 18% com a dívida emergente.

Desde o começo de 1998, o ano em que a inadimplência da Rússia golpeou fortemente os mercados latino-americanos, os bônus emergentes renderam em torno de 22%, de acordo com o índice EMBI+ do banco J.P. Morgan.

Esse é um número considerável se comparado ao rendimento de cerca de 18% do índice S&P 500, referencial do mercado acionário nova-iorquino, no mesmo período.

Boas apostas

Enquanto os bônus da Argentina despencaram 67% em 2001, os do Brasil subiram 4,78% e, os do México, mais de 13%, segundo o EMBI+.

No final de semana passado, a Argentina finalmente se rendeu ao peso de sua dívida pública -de US$ 132 bilhões- e declarou a suspensão de seu pagamento.

Mas, sem contar com a Argentina, Thomas Trebat, diretor-gerente de análise de mercados emergentes da Salomon Smith Barney, prevê que os bônus soberanos latino-americanos terão um rendimento de 18% no próximo ano e o Brasil deve liderar o caminho com 25%.

"Se as pessoas têm perspectivas realistas de ganhar esta grande quantidade de dinheiro, eu não estou preocupado com o fluxo de recursos em 2002'', disse Trebat. "Creio que estarão ali''.

A boa perspectiva para o Brasil está vinculada a uma administração macroeconômica sólida que inclui planos como corte de gastos e medidas para fortalecer a moeda, mesmo que o ruído político relacionado às eleições presidenciais de outubro possa causar cautela entre os investidores.

O México, por sua vez, é percebido como uma economia mais bem administrada, e a esperada aprovação de um pacote fiscal para tributar alimentos e remédios está reforçando esta idéia. Os títulos soberanos do país devem ser promovidos ao grau de investimentos pela Standard & Poor's assim que o pacote for aprovado.

Além disso, excluindo o recém ataque terrorista contra os Estados Unidos, o estreito vínculo que o México tem com a economia líder das Américas praticamente assegura que irá se recuperar com seu vizinho do norte.

A Venezuela, porém, parece estar em um ano difícil, já que seu presidente, Hugo Chavez, força as suas reformas revolucionárias em uma população cada vez mais relutante.

Fluxo de Recursos

A última vez que os fundos de dívida tiveram uma entrada líquida de recursos foi em 1998, ano do desastroso "default" da Rússia. O fiasco afugentou os investidores não só da Rússia, mas também da América Latina e das economias emergentes da Europa.

Naquele ano, o mercado -incluindo a América Latina, Ásia e Europa - assistiu a entrada de recursos líquidos da ordem de US$ 543 milhões, segundo a Lipper, uma companhia que monitora fundos de investimentos.

Desde então, a hemorragia aumentou significativamente. "Muitos investidores tiveram prejuízos e continuarão com o pé atrás quanto a um retorno aos mercados emergentes,'' disse Fernando Losada, economista senior da latino-americana ABN-Amro

Em 1999 foi registrada uma saída líquida de US$ 219 milhões, em 2000, de US$ 364 milhões e, até agora, neste ano marcado por um salto para a qualidade inspirado pela crise argentina, houve uma saída líquida de aproximadamente US$ 1 bilhão.

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