Reuters
03/01/2002 - 16h23

Índia e Paquistão mostram poucos sinais de possível acordo

da Reuters, em Nova Déli (Índia)

A Índia e o Paquistão trocaram tiros na disputada região da Caxemira hoje e mostraram poucos sinais de que vão tentar resolver o impasse, apesar da pressão internacional.

Os líderes dos dois países devem participar de um encontro de cúpula do Sul da Ásia no Nepal a partir de amanhã, o que fez com que os Estados Unidos e a China fizessem apelos para que os rivais resolvam sua disputa de forma pacífica.

O primeiro-ministro britânico Tony Blair deveria chegar à Índia amanhã e o presidente norte-americano George W. Bush pediu a Blair que tentasse fazer com que os líderes da Índia e do Paquistão iniciassem negociações.

Na parte da Caxemira controlada pela Índia, guerrilheiros islâmicos fizeram uma emboscada ao exército, matando dois soldados e ferindo sete, no mais recente incidente no estado que está no centro da disputa entre os países rivais.



"Se a situação sair do controle e resultar em um conflito armado de larga escala, não apenas a Índia e o Paquistão irão sofrer, mas também o processo de paz no Afeganistão será afetado e a estabilidade no Sul da Ásia e em toda a Ásia ficará ameaçada", teria dito o ministro das Relações Exteriores da China, Tang Jiaxuan Tang, ao secretário de Estado norte-americano Colin Powell, segundo a agência de notícias chinesa "Xinhua".

Mais ação
O presidente paquistanês Pervez Musharraf chegou à China para passar uma noite do país, durante uma turnê por países asiáticos.

Ele foi elogiado pela Índia e pelos Estados Unidos por ter tomado medidas contra militantes que governo indiano acusa de terem sido responsáveis pelo ataque de 13 de dezembro a seu Parlamento.

Mas a Índia diz que a ofensiva de Musharraf não é suficiente e afirma que tem provas de que o Paquistão patrocinou o terrorismo além-fronteira.

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Jaswant Singh, disse em uma coletiva em Katmandu que o Paquistão deveria fazer "uma declaração muito mais direta contra o terrorismo".

Musharraf disse à televisão estatal do Paquistão antes de viajar para a China que esperava que o encontro no Nepal ajudasse a promover a paz.

"Espero que com a ajuda deste encontro haja uma discussão sobre a paz e a tranquilidade desta região", disse.

O primeiro-ministro indiano Atal Behari Vajpayee chegou em Katmandu hoje. Autoridades indianas descartaram a possibilidade de conversas com Musharraf durante o encontro.

A Índia e o Paquistão travaram três guerras desde a independência da Inglaterra em 1947, duas delas devido à Caxemira. Os dois países realizaram testes nucleares em 1998.

A Índia, de maioria hindu, acusa o Paquistão, de maioria muçulmana, de patrocinar cerca de uma dúzia de grupos islâmicos que lutam contra o domínio indiano de Jammu e da Caxemira, os dois únicos Estados de maioria muçulmana.

O governo indiano acusa os grupos com sede no Paquistão Lashkar-e-Taiba e Jaish-e-Mohamad pelo ataque ao Parlamento, que foi o estopim para a maior mobilização de tropas na fronteira entre dois países desde 1987.

Os grupos Jaish e Lashkar disseram que cerca de cem ativistas haviam sido detidos no Paquistão, incluindo o líder da Jaish Maulana Masood Azhar e o ex-líder do Lashkar, Hafiz Mohammad Saeed.

A violência separatista matou pelo menos 30 mil pessoas desde 1989 na região do Himalaia.

Morte
Autoridades paquistanesas disseram que uma mulher morreu ao ser atingida por tiros de morteiro e metralhadoras disparados na linha de cessar-fogo na Caxemira.

Vajpayee disse ontem que usaria qualquer arma disponível para defender o país.

A Índia deu indicações de que poderia conduzir ataques aéreos "cirúrgicos" contra bases militantes na parte paquistanesa da Caxemira, dizendo que os militantes da região haviam sido treinados no Afeganistão e que teriam prováveis ligações com a Al Qaeda de Osama bin Laden.

Os Estados Unidos e a Inglaterra estão preocupados com a rivalidade entre a Índia e o Paquistão, que pode prejudicar a luta contra o terrorismo, na qual o Paquistão tem um papel fundamental.

Uma autoridade indiana disse que Blair, que chegou em Bangladesh na sexta-feira (28), iria se encontrar com Vajpayee no domingo (30) e conversar com Musharraf na segunda-feira (31).

Leia mais no especial Conflito Índia-Paquistão
 

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