Reuters
08/01/2002 - 12h27

Médico brasileiro propõe combater TPM com remédio para coração

da Reuters, em São Paulo

Um estudo desenvolvido por um pesquisador brasileiro promete por fim à tensão pré-menstrual, mais conhecida como TPM. A proposta do cardiologista Manuel Vidalón é de utilizar uma droga para o coração, que pretende curar os sintomas que antecedem o ciclo menstrual.

O médico peruano naturalizado brasileiro estuda o coração desde 1979 e chegou à ginecologia por acaso. Segundo Vidalón, tudo começou com a irritação da filha no período que antecedia a menstruação.

Os sintomas, similares à Síndrome da Fadiga Crônica estudada pelo médico, despertaram a curiosidade do especialista, cujo estudo sobre TPM foi apresentado no 4º Congresso Europeu de Ginecologia, realizado em Madri no final de outubro.

"Decidi levá-la ao meu consultório e imediatamente realizei um ecocardiograma. O tamanho do coração estava normal, mas mesmo assim apliquei fenilefrina _substância que provoca estresse no coração_ e observei que houve uma redução do bombeamento cardíaco", diz o médico. "Três dias depois ela estava bem e repeti novamente o teste com a fenilefrina e a função cardíaca se recuperou", afirmou Vidalón.

A partir dessas observações, Vidalón suspeitou que havia alguma ligação entre os sintomas indesejáveis da TPM e a capacidade de bombeamento cardíaco. A solução seria simples: um tônico que rejuvenescesse o músculo cardíaco.

Durante dez anos, o cardiologista acompanhou cerca de 30 pacientes com sintomas agudos de TPM. Na primeira fase da pesquisa, entre o sétimo e o 14º dia do ciclo, as mulheres não apresentavam os sinais do distúrbio e receberam fenilefrina. O ecocardiograma indicou que o bombeamento estava normal.

Já no segundo período, as análises mostraram que as voluntárias no pico da TPM tiveram uma redução do bombeamento. Para normalizar essa função, o médico receitou por três meses o uso diário de 0,25 miligramas de digitálico, um tipo de remédio usado há 200 anos para tratar a insuficiência cardíaca.

"Os sintomas da TPM simplesmente desapareceram", afirma ele. "Isso não quer dizer que as vítimas da TPM estejam com um problema no coração. Elas só estão com o motor desregulado".

A fonoaudióloga Adriana Moraes, 28, se surpreendeu com os resultados da terapia de Vidalón. Depois de passar por tratamentos ginecológicos e psicológicos, ela agradece o "milagre" do especialista. "Eu ficava muito irritada durante a TPM, além de ter cólicas terríveis e dores na mama e nas costas. Agora, não sinto mais nada".

Ela tomou o digitálico durante cinco meses e só interrompeu a medicação quando ficou grávida. "Valeu muito a pena e o custo do remédio _em torno de R$ 7 por mês_ é outro fator positivo". Vidalón acrescentou que a TPM dura o tempo que o coração estiver desregulado. Quando o sangramento ocorre, segundo ele, o problema desaparece espontaneamente com a normalização das funções cardíacas.

"Agora preciso de mais estudos para desvendar a causa da TPM. Tenho a hipótese de que ela está relacionada ao hormônio progesterona, que provavelmente tem um efeito depressivo sobre o coração", diz o médico.

Polêmica

O chefe do departamento de ginecologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Mauro Haidar, não acredita na tese de Vidalón. "A TPM não é uma doença, ela é uma síndrome e por isso, os sintomas variam muito de mulher para mulher. Não há um remédio ou tratamento específico e estudos mundiais desconhecem as causas ou a cura".

Os ginecologistas comumente recomendam a fluoxetina (agente ativo do Prozac), a vitamina E e os gamalinoléicos, que incluem o óleo de prímula, para controlar as alterações.

O uso do digitálico também é outro dilema. Segundo o cardiologista chefe do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, a droga deve ser prescrita com cuidado, já que pode causar efeitos colaterais graves caso as doses sejam administradas sem um acompanhamento minucioso.

"O digitálico pode inclusive causar arritmia e parada cardíaca e consequentemente, a morte", afirma o médico.

"Embora eu não seja ginecologista, acredito que não é possível curar a TPM com o digitálico. Mas a medicina é cheia de surpresas. A aspirina, por exemplo, não foi desenvolvida para o tratamento cardíaco e hoje é uma boa aliada do coração. As descobertas surgem de forma inusitada", diz ele, dando uma esperança a 50% das brasileiras que sofrem da síndrome.
 

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