Reuters
08/01/2002 - 14h25

Estudo liga infecção bacteriana e viral a doença cardíaca

da Reuters, em Washington

Pesquisadores alemães anunciaram que encontraram evidências de que infecções com as bactérias causadoras de pneumonia, otite (inflamação no ouvido) e outras enfermidades também podem provocar doença cardíaca e até a morte.

O estudo, publicado na revista "Circulation", da Associação Americana do Coração, revela que a resposta do corpo a algumas infecções pode ajudar a provocar doença cardíaca.

"Mostramos uma associação relevante entre o número de infecções de cada paciente e o volume de arteriosclerose nas artérias cardíacas, do pescoço e das pernas", disseram os autores da pesquisa, Hans Rupprecht e Christine Espinola-Klein, da Universidade Johannes Gutenberg, em Maniz. "O risco de morte aumentava com o número de agentes infecciosos, especialmente em pessoas com doença arterial avançada."

Os pesquisadores acreditam que a resposta do corpo a uma inflamação, combinada a um dieta alimentar gordurosa, ajuda a bloquear as artérias. As placas que formam esse bloqueio são criadas quando o sistema imunológico se agarra a células gordurosas do sangue e tenta arrancá-las através da parede celular.

A célula gordurosa é geralmente muito grande e fica presa na parede da artéria. A "cilada" imunológica e as células gordurosas se armazenam na parede arterial, endurecem e podem impedir o fluxo sanguíneo ou se desmanchar em coágulos.

As respostas inflamatórias à infecção podem enviar mais dessas células imunológicas para a circulação, que vão procurar algo para fazer.

A equipe de Rupprecht e Espinola-Klein analisou 572 pacientes com doença cardíaca. A maioria deles já tinham apresentado ataque do coração ou dores no peito.

Os cientistas estudaram o vírus da herpes simples tipo 1 e 2, que causa feridas nos lábios e nos genitais; o citomegalovírus, um outro agente da herpes; o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose; o Haemophilus influenzae, bactéria que leva à infecções do ouvido e do aparelho respiratório superior; o Chlamydophila pneumoniae e Mycoplasma pneumoniae, causadores da pneumonia, e o Helicobacter pylori, que provoca a maioria das úlceras estomacais.

Durante três anos, a equipe de pesquisa encontrou uma co-relação clara entre o número de infecções que uma pessoa teve e o risco de morrer vítima de doença cardíaca.

"Os níveis de anticorpos para C. pneumoniae, H. pylori, H. influenzae, citomegalovírus e herpes simples tipo 2 estavam ligados à amplitude da arteriosclerose", afirmou Espinola-Klein.

Em pacientes que já haviam tido mais de três infecções, o índice de morte foi de 3,1%. Para aqueles que apresentaram quatro ou cinco infecções, esse número subiu para 9,8%, e 15% para os que tiveram entre seis e oito infecções.

"Baseados nesses resultados, achamos que o número de infecções a que cada indivíduo é exposto pode estar envolvido no desenvolvimento e no progresso da arteriosclerose. Ambos os patógenos bacterial e viral parecem estar envolvidos", explicou a pesquisadora.

Contudo, o médico Paul Ridker, diretor do Centro de Prevenção de Doença Cardiovascular do Hospital Brigham, em Boston, disse que a ligação não significa que as infecções causam necessariamente uma doença cardíaca.

Elas podem ser apenas uma indicação de algo mais. Por exemplo, pessoas que apresentam muitas infecções podem estar com o estado de saúde debilitado em geral, relatou o especialista.

Ridker, que também estuda as relações entre infecção e doença cardíaca, descobriu que as pessoas saudáveis com altos níveis de células inflamatórias têm mais chances de desenvolver doença cardíaca.

"Nossos resultados sugerem que a inflamação parece ser um agente fundamental", destacou ele, notando que outros estudos indicam que a aspirina e as drogas que diminuem o colesterol podem prevenir doença cardíaca, ao menos em parte, ao reduzir a inflamação.

Em novembro, uma equipe de cientistas suecos relatou ao "Journal of the American Medical Association" que os níveis elevados da interleucina 6 poderiam levar à morte por doença cardíaca.

E, em fevereiro, pesquisadores austríacos disseram que pessoas com inflamações recorrentes também são mais propensas a ter as artérias congestionadas.

Embora muitos estudos tenham relacionado infecções à doença cardíaca, nenhum demonstrou que pessoas que tomam antibióticos têm um risco menor de ter enfermidades do coração.
 

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