Reuters
10/01/2002 - 15h19

Índia planeja exercícios militares próximos ao Paquistão

da Reuters, em Nova Déli e Islamabad

Ao mesmo tempo em que a Índia planejava realizar exercícios de guerra ao longo da fronteira com o Paquistão, os dois lados descartavam as esperanças de que um discurso a ser feito pelo governo paquistanês diminua o nível de tensão entre as duas potências nucleares.

Ao menos uma criança indiana morreu e duas ficaram feridas quando tropas indianas e paquistanesas trocaram disparos de morteiro e de metralhadora hoje na região da Caxemira, poucos quilômetros ao norte do local em que acontecerão os exercícios militares.

Autoridades disseram que as forças indianas estacionadas ao longo da fronteira iriam realizar operações por um mês no Rajastão e no Punjab.

Um especialista da área de defesa afirmou que os exercícios aconteceriam sob um "pano de fundo nuclear", a fim de que as tropas possam lidar com esse tipo de ataque. O Exército de Israel realizou exercícios no ano passado para preparar os soldados para ataques biológicos, químicos e nucleares.



Em meio a temores de que o atual impasse possa detonar uma quarta guerra entre os países rivais, a Índia e o Paquistão descartaram as esperanças de que um discurso preparado pelo presidente paquistanês, Pervez Musharraf, aplaque a crise. O presidente deve fazer comentários sobre as medidas a serem tomadas contra grupos ativistas que atuam na Caxemira.

"Acho que nossa experiência recente nos deixa pessimistas sobre o que esperar do Paquistão", disse Nirupama Rao, porta-voz da chancelaria indiana.

"No entanto, dito isso, veremos se o Paquistão está preparado para ir além do que foi até agora, não apenas em termos de declarações, mas em termos de ações concretas para tratar das questões que são nossa preocupação central", afirmou.

Riscos
Musharraf corre riscos internamente ao enfrentar as pressões contrárias à repressão aos grupos de ativistas islâmicos depois do ataque de 13 dezembro ao Parlamento da Índia, que o governo indiano atribuiu a dois grupos islâmicos cujas sedes ficam no Paquistão.

Sob pressão dos EUA e do Reino Unido, Musharraf agiu contra os militantes e disse que faria um pronunciamento dentro de alguns dias para anunciar o que chamou de "decisões finais".

A Índia, que acusa o Paquistão de patrocinar o terrorismo, recebeu bem a repressão inicial contra os ativistas, mas considerou-a insuficiente.

Autoridades paquistanesas afirmaram que grandes concessões são improváveis. Segundo essas autoridades, é difícil para Musharraf agir, em meio a riscos políticos e pessoais, sem parecer estar se curvando à Índia.

O Paquistão nega patrocinar o terrorismo, mas afirma ter dado apoio moral àqueles que considera "combatentes da liberdade".

Enquanto espera por Musharraf, a Índia faz pressão nos EUA por apoio para sua própria "guerra contra o terror".

A Índia e o Paquistão travaram três guerras desde a independência do Reino Unido, em 1947. Duas delas foram motivadas pela Caxemira.

Os EUA, temendo que um confronto desestabilize o sul da Ásia e prejudique sua caçada a Osama bin Laden, a quem acusam de ser o principal responsável pelos ataques de 11 de setembro, pressionam os dois países para que negociem uma saída pacífica da crise.

O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, deve visitar o Paquistão e a Índia na próxima semana, logo depois do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que viajou aos países nesta semana.


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