Reuters
15/01/2002 - 13h29

Analistas paquistaneses duvidam que militantes ameacem governo

da Reuters, em Islamabad (Paquistão)

A repressão a movimentos islâmicos no Paquistão alimentou temores de uma reação desestabilizadora, mas analistas políticos disseram hoje duvidar que os ativistas consigam se reagrupar ou ameaçar o governo.

As forças de segurança paquistanesas agiram rapidamente depois da ordem do presidente Pervez Musharraf de acabar com os grupos de ativistas e organizações islâmicas radicais, detendo mais de mil pessoas de entidades recém-colocadas na ilegalidade.

O Paquistão adotou essas medidas sob pressão dos Estados Unidos e para diminuir o nível de tensão com a vizinha Índia, que exigia uma reação do país depois de o Parlamento indiano ter sido alvo de um ataque suicida no dia 13 de dezembro, com saldo de 14 mortos. O ataque foi atribuído pela Índia a grupos separatistas islâmicos que atuam na Caxemira e que possuem bases no Paquistão.

Apesar da detenção dos militantes, muitos deles membros dos grupos separatistas acusados pelo governo indiano, o nível de tensão entre os dois países na fronteira continua alto. Oficiais paquistaneses disseram, porém, não ter havido choques desde a noite de ontem.

As detenções em massa foram realizadas antes e se seguiram a um discurso do general Musharraf no sábado (12), no qual o dirigente mandou uma mensagem redigida com cuidado para aplacar a fúria da Índia sem parecer que o país estivesse se curvando a seu maior rival.

Apesar de alguns clérigos e ativistas de grupos proibidos terem falado sobre uma reação, houve até agora pouca resistência.

Alguns dos integrantes das entidades banidas disseram que seus companheiros iriam começar a agir secretamente, mas analistas afirmaram que eles se esconderiam para escapar da repressão e que não seriam capazes de se reagrupar para ameaçar o governo.

Em um país em que os serviços de segurança há muito tempo incentivam ou mesmo patrocinam os grupos islâmicos radicais, as autoridades, segundo analistas, não terão dificuldades em vigiar os membros das organizações colocadas na ilegalidade.

"As atividades deles são conhecidas por nossas autoridades", afirmou Mushahid Hussain, comentarista de política.

Outros, no entanto, advertiram que, se os grupos começarem a agir secretamente, poderiam escapar ao controle do governo.



"Tigres de papel"
Um oficial da reserva também descartou as possibilidade de que os ativistas ameaçassem Musharraf.

"Eles são 'tigres de papel' e não têm capacidade para criar um movimento de massa. A única coisa que podem fazer é matar algumas pessoas", afirmou o general Talat Masood.

Em um sinal, porém, de que as autoridades estão preocupadas com a reação dos grupos, alguns dos quais são responsabilizados por ondas de violência verificadas nos últimos anos, o governo afirmou ontem que as organizações não poderiam ressurgir com novos nomes.

Estima-se que cerca de 1 milhão de soldados paquistaneses e indianos estejam estacionados frente a frente, neste momento, ao longo da fronteira que separa os dois países.

A Índia recebeu com cautela o pronunciamento de Musharraf, afirmando aguardar por medidas concretas a fim de que o país vizinho coloque fim ao que chama de "terrorismo através da fronteira" antes de retroceder suas forças.

A disputa pela Caxemira foi a causa de duas das três guerras travadas pelas hoje potências nucleares desde que se tornaram independentes, em 1947.

Leia mais no especial Conflito Índia-Paquistão
 

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