Reuters
03/05/2001 - 10h12

Fãs criam turnos e pagam "aluguel" na fila para fugir do Juizado

da Reuters, no Rio de Janeiro

Para fugir da repressão do Juizado de Menores do Rio de Janeiro um grupo de meninas acampadas em frente ao estádio do Maracanã para o show dos Backstreet Boys resolveu criar uma nova estratégia de vigília: as maiores de 18 anos pernoitam na fila e as menores faltam à escola para fazer plantão durante o dia.

Márcia, de 16 anos, e Aline, de 17, que se recusaram a fornecer sobrenomes, estão acampadas há 15 dias e vêm faltando às aulas na esperança de conseguir um bom lugar para assistir ao show.

"Juntei o dinheiro para o ingresso dando aulas particulares. Nunca tinha faltado ao colégio. Faço isso agora pelo amor aos meninos do grupo. Meus pais entenderam a situação e só ficaram bravos comigo quando passei uma noite no acampamento. Meu pai veio me buscar e disse que se eu não voltasse com ele iria chamar a polícia", disse ela, que mora na Barra da Tijuca e estuda em escola particular.

"Com medo de prejudicar todo o grupo e por nunca ter desobedecido meus pais, discutimos, mas acabamos entrando num acordo. Ficaria durante o dia e a escola recuperaria depois, já que sempre fui uma das melhores alunas da turma", disse Márcia.

A situação não é tão fácil para Aline, sua colega de fã clube, que mora no bairro operário de São Cristóvão. "Meus pais ficaram preocupados com a segurança. Mas venho com outras colegas depois do colégio. Faltei a algumas aulas. Temo as consequências depois, já que tirei notas baixas no primeiro bimestre", disse.

Aluguel

Devido à ação da Vara da Infância e Adolescência, muitas menores pagam com o dinheiro tirado das mesadas ou com lanches as colegas maiores de 18 para que guardem os lugares durante a noite.

"Minha mãe contribuiu. Faz sanduíches e suco que eu trago de manhã para as meninas que dormiram aqui. Moro perto e levo apenas cinco minutos de ônibus para chegar aqui ao Maracanã. Às vezes faço duas ou três viagens para trazer comida para todas", diz Márcia. "Pedi um reforço na mesada para comprar o ingresso para o show e diminuí meus gastos para pagar às maiores para guardarem meu lugar. Às vezes dou 10, 20 reais".

O grupo da comissão de frente na fila já conta com mais de mil garotas inscritas, que se revezam para guardar os lugares.

A pressão provocada por tanta gente fez com que a direção da Suderj - órgão do estado do Rio que administra o Maracanã - passasse a permitir que as meninas usassem os banheiros do estádio e pediu reforço no policiamento noturno para garantir a integridade das fãs.

Mas a direção da Suderj não confirmou a informação que circula entre as meninas acampadas, de que elas vão poder entrar no estádio três horas antes da abertura oficial dos portões.

Rotina

Para passar o tempo, as "back maníacas", como algumas estão se autodefinindo, trocam fotos, ouvem músicas e até vibram com a apresentação de um grupo cover dos Backstreet Boys, formado por cinco dos poucos garotos entre os fãs.

"No colégio os colegas debocham de mim fazendo insinuações. Mas, ao contrário das meninas, não sou fã dos caras, mas sim da banda e das músicas que fazem", diz Sandro, de 18 anos. "Sou um dos poucos caras aqui e com isso já arranjei umas cinco namoradas. Pouco me importo se fico com má fama. O que importa é que fico com as meninas".

Outra frente da vigília de "back maníacas" foi montada em frente ao hotel onde o grupo está hospedado no Rio de Janeiro. Cerca de 200 fãs estão desde o final de semana acampadas na avenida Niemeyer onde fica o Hotel Sheraton. Policiais do Batalhão do Leblon, na zona Sul da cidade, se revezam para evitar a invasão do hotel.

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