Reuters
22/01/2002 - 21h18

Rússia fecha último canal de TV independente no país

da Reuters, em Moscou

A Rússia tirou do ar hoje o maior canal independente de televisão do país, em medida que dá ao Kremlin o monopólio nas transmissões pela primeira vez desde a era soviética.

Moscou diz que o assunto é de negócios, mas a atitude levantou preocupação internacional sobre a tolerância do presidente Vladimir Putin aos dissidentes e a respeito da liberdade dos tribunais.

À meia-noite, um programa de entrevista da TV6 foi interrompido de maneira abrupta e substituído por listas coloridas. A energia e as linhas telefônicas do estúdio foram cortadas, disse o diretor-geral, Yevgeny Kiselyov.

"Parece com algum tipo de golpe de televisão", disse Kiselyov à rádio Ekho Moskvy.

Na segunda maior cidade da Rússia, São Petersburgo, a retransmissora local da TV6 exibiu um balé mostrado quando morriam os líderes soviéticos. O balé "Lago dos Cisnes" também foi exibido durante a tentativa de golpe de Estado em 1991.

"Foi um grande erro político da parte do presidente, e espero que mais cedo ou mais tarde alguém explique isso a ele", disse Boris Nemtsov, chefe do partido de direita União de Forças da Ala Direita.

A maior parte da equipe da TV6 foi recrutada nos quadros da NTV, tomada no ano passado pelo governo. O dono da TV6, o milionário Boris Berezovsky, tem pouco apoio entre a elite liberal e a comunidade de negócios da Rússia.

"Sentimos por ver qualquer queda no pluralismo, mas não sentimos por ver Berezovsky privado dos meios para colocar sua vontade no corpo político russo", disse Eric Kraus, estrategista-chefe do banco de investimento NIKoil, em nota aos clientes.

O Kremlin diz que não tem nada a ver com as ações contra a NTV e a TV6, mas Putin jamais negou sua preocupação com Berezovsky. Para o presidente, o empresário abusa do poder da mídia.

Tanto a NTV quanto a TV6 costumavam criticar as táticas militares russas na Tchetchênia e mostravam supostos escândalos de corrupção no governo.

O ministro da Mídia, Mikhail Lesin, que deu a ordem de tirar a TV6 do ar, disse que é do "interesse de Berezovsky explorar a situação: ele sempre tem de provar que é dissidente".

O caso será estudado no dia 27 de março, disse o ministro.

O canal foi fechado oficialmente a pedido do fundo de pensão da maior estatal de petróleo, LUKOIL, alegando falência da emissora.
 

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