Reuters
24/01/2002 - 19h20

Filme "Terra de Ninguém" traz uma visão inusitada da Bósnia

da Reuters, em São Paulo

Combinando uma frenética energia com um humor negro que provoca os limites do politicamente correto, o filme "Terra de Ninguém", vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e que marca a estréia do diretor Danis Tanovic, traça mais um retrato da guerra da Bósnia.

Ponto para o estreante diretor bósnio, que consegue uma dramática originalidade mesmo se comparado a outros filmes de inegável competência, como "Antes da Chuva", de Milcho Manchevski, "Bela Aldeia, Bela Chama", de Srdjan Dragojevic, e "Underground - Mentiras de Guerra", de Emir Kusturica.

A história é ambientada em 1993. Surpreendidos pelo nevoeiro, um grupo de soldados bósnios, que se esgueira na madrugada, perde o rumo e acaba bombardeado pelos inimigos sérvios.

Quando a manhã chega, sobraram na estreita faixa que divide os dois territórios - e é por isso chamada de "terra de ninguém" - dois inimigos: um sérvio, Nino (Rene Bitorajac), outro bósnio, Ciki (Branko Djuric).

Um quer matar o outro, mas nunca consegue, porque as armas mudam de mãos o tempo todo. A disputa se interrompe com a descoberta de uma questão mais urgente: outro soldado bósnio, Cera (Filip Sovagovic), que os sérvios julgaram morto, foi jogado sobre uma mina. Agora, se fizer o mínimo movimento, tudo irá pelos ares.

O drama força os dois inimigos a procurar uma trégua. Uma missão das Nações Unidas é chamada, mas não demonstra a vontade política necessária para romper o dilema porque os oficiais superiores, como o coronel inglês Soft (Simon Callow), não compartilham das melhores intenções propostas pelos escalões inferiores, como o sargento francês Marchand (George Siatidis).

O habitual circo da mídia, tendo à frente a jornalista britânica Jane (Katrin Cartlidge), observa de perto o impasse, o que não signica que compreenda devidamente o que está se desenrolando.

A sequência dos acontecimentos serve como ácido comentário da incompetência, aqui elevada à potência de crime, tanto dos políticos, quanto dos militares, sob uma absurda conivência da imprensa.

Sem flertar com o humanismo fácil, o filme está colecionando prêmios mundo afora. O primeiro foi o troféu de melhor roteiro no Festival de Cannes/2001. Recentemente, arrebatou também os troféus de melhor filme estrangeiro de 2001 do National Board of Review.

Curiosamente, a trajetória deste filme teve uma etapa no Brasil. Em 1999, foi aqui que se encontraram três daqueles que acabaram se tornando seus produtores, o iugoslavo Cedomir Kolar, o suíço Marco M ller e a cineasta belga Marion H nsel, todos jurados na 23a Mostra Internacional de Cinema.

 

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