Filme "Terra de Ninguém" traz uma visão inusitada da Bósnia
da Reuters, em São PauloCombinando uma frenética energia com um humor negro que provoca os limites do politicamente correto, o filme "Terra de Ninguém", vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e que marca a estréia do diretor Danis Tanovic, traça mais um retrato da guerra da Bósnia.
Ponto para o estreante diretor bósnio, que consegue uma dramática originalidade mesmo se comparado a outros filmes de inegável competência, como "Antes da Chuva", de Milcho Manchevski, "Bela Aldeia, Bela Chama", de Srdjan Dragojevic, e "Underground - Mentiras de Guerra", de Emir Kusturica.
A história é ambientada em 1993. Surpreendidos pelo nevoeiro, um grupo de soldados bósnios, que se esgueira na madrugada, perde o rumo e acaba bombardeado pelos inimigos sérvios.
Quando a manhã chega, sobraram na estreita faixa que divide os dois territórios - e é por isso chamada de "terra de ninguém" - dois inimigos: um sérvio, Nino (Rene Bitorajac), outro bósnio, Ciki (Branko Djuric).
Um quer matar o outro, mas nunca consegue, porque as armas mudam de mãos o tempo todo. A disputa se interrompe com a descoberta de uma questão mais urgente: outro soldado bósnio, Cera (Filip Sovagovic), que os sérvios julgaram morto, foi jogado sobre uma mina. Agora, se fizer o mínimo movimento, tudo irá pelos ares.
O drama força os dois inimigos a procurar uma trégua. Uma missão das Nações Unidas é chamada, mas não demonstra a vontade política necessária para romper o dilema porque os oficiais superiores, como o coronel inglês Soft (Simon Callow), não compartilham das melhores intenções propostas pelos escalões inferiores, como o sargento francês Marchand (George Siatidis).
O habitual circo da mídia, tendo à frente a jornalista britânica Jane (Katrin Cartlidge), observa de perto o impasse, o que não signica que compreenda devidamente o que está se desenrolando.
A sequência dos acontecimentos serve como ácido comentário da incompetência, aqui elevada à potência de crime, tanto dos políticos, quanto dos militares, sob uma absurda conivência da imprensa.
Sem flertar com o humanismo fácil, o filme está colecionando prêmios mundo afora. O primeiro foi o troféu de melhor roteiro no Festival de Cannes/2001. Recentemente, arrebatou também os troféus de melhor filme estrangeiro de 2001 do National Board of Review.
Curiosamente, a trajetória deste filme teve uma etapa no Brasil. Em 1999, foi aqui que se encontraram três daqueles que acabaram se tornando seus produtores, o iugoslavo Cedomir Kolar, o suíço Marco M ller e a cineasta belga Marion H nsel, todos jurados na 23a Mostra Internacional de Cinema.