Reuters
30/01/2002 - 18h08

São Jorge vira Ogum na Beija Flor por força da lei

da Reuters, no Rio de Janeiro

Pela primeira vez na história do carnaval carioca uma escola de samba vai entrar na Marquês de Sapucaí com seus carros alegóricos, fantasias e...um termo de ajuste de conduta.

Depois de se reunir com a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a Beija Flor concordou em assinar um documento se comprometendo a não trazer para o sambódromo imagens de santos, que ajudariam a contar o enredo "O Brasil dá o ar da sua graça - de Ícaro a Rubem Berta, o ímpeto de voar", patrocinado pela Varig.

São Jorge, representando a chegada do homem à lua, será transformado em Ogum, informou a assessoria da escola, apesar do protesto de alguns umbandistas. Já a substituição de Nossa Senhora da Aparecida, que encerraria o desfile pedindo paz, ainda é segredo em Nilópolis.

O acordo é inédito e mostra sinais de amadurecimento e profissionalização do carnaval carioca, avaliam envolvidos no processo, já que evita as cenas de busca e apreensão pela polícia nos barracões às vésperas do desfile, ou mesmo na porta de entrada da Marquês de Sapucaí.

"Conseguimos conciliar ambas as partes e o termo de ajuste deve ser assinado na sexta-feira. Foi um meio muito mais rápido e menos violento de resolver esse problema", avalia a promotora do Ministério Público Monica di Piero, que intermedia o acordo.

O pedido para a conciliação, segundo a promotora, partiu do Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eusébio Oscar Scheid, na sua estréia no carnaval carioca.

"Dom Eugênio Salles (o arcebispo anterior) eu nem conheci, mas esse novo (arcebispo) está fazendo um trabalho ótimo em parceria com a gente (ministério público)", disse Piero, que a pedido do bispo também impediu a realização da primeira orgia do clube hedonista na cidade maravilhosa no ano passado.

O arcebispo prefere não conceder entrevistas sobre carnaval, segundo o assessor da Arquidiocese, mas já deixou claro que a sua marca será de tentar evitar as cenas de busca e apreensão vivida em carnavais passados.

"Assim é muito melhor, dá tempo para a escola pensar em outra coisa para colocar no lugar", disse a assessora da Beija Flor, Dalila Vila Nova, que em 1989 viu o a polícia impedir o desfile da imagem de Cristo, que desfilou envolto em um plástico preto e ladeada por mendigos, causando uma enorme polêmica na época.

Mas como no carnaval tudo pode virar brincadeira, cinco advogados da Arquidiocese do Rio de Janeiro estarão de plantão para garantir o cumprimento do termo de ajuste, e o Ministério Público promete também ficar atento à avenida.

"É preciso haver respeito ao sagrado, o próprio regulamento Liga das Escolas de Samba proíbe o desfile de imagens religiosas", informa o advogado da Arquidiocese do Rio, Antonio Passos.

Além da Beija Flor, Passos informou que fez um acordo informal com a Mangueira, que na ala Carcará traria roupas bordadas com santos, que serão substituídos por outras imagens.

"Além dessas duas, não sabemos de nenhuma outra escola com imagens", disse Passos que até sexta-feira termina de visitar os barracões das escolas.
 

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