Reuters
02/02/2002 - 10h52

Joãosinho Trinta cria polêmica com padres

da Reuters, no Rio de janeiro

A representação de um fato histórico do Maranhão pela Grande Rio envolvendo padres trouxe de volta o tradicional mau estar entre igreja e uma escola de samba no carnaval do Rio, evitado ao máximo pelo novo arcebispo da cidade.

Desde da semana passada, a Arquidiocese do Rio visita barracões de escolas de samba para fugir das desgastantes buscas e apreensões de última hora da polícia. Desta maneira, conseguiu pela primeira vez na história do carnaval fazer uma escola de samba, a Beija-Flor, assinar um termo de ajuste de conduta para entrar na avenida sem imagens de santos.

Mas no barracão da Grande Rio, de Joãosinho Trinta, velho gerador de polêmicas, negociações desse tipo não tem a mínima chance de acontecer. Com uma ala que representa a autoflagelação de padres durante a invasão francesa, Joãosinho se recusa a assinar qualquer termo de conduta ou respeitar a vontade da igreja.

"Eu não vou obedecer não, o meu carnaval vai levar história para a avenida, a igreja não tem razão", disse à Reuters o carnavalesco da Grande Rio. "Mudar a fantasia dos padres só com ordem judicial, como aconteceu com o Cristo Negro".

Em 1989, a Beija Flor de Nilópolis, então sob o comando do carnavalesco, foi impedida de desfilar com a imagem de um Cristo mendigo. Para burlar a proibição e ao mesmo tempo criticar a igreja, Joãosinho envolveu a estátua em plástico preto e a famosa faixa "Mesmo proibido, olhai por nós".

A ala polêmica deste ano (que também poderá utilizar o preto como protesto, se for proibida) consiste na representação da história de um padre que ateou fogo às próprias partes genitais, em protesto contra a utilização de mulheres índias como presentes para os franceses, durante a invasão ao Brasil em 1612.

"Os padres virão segurando tochas e as roupas serão de época, de festa, não tem nada agressivo nem baixo astral, só quero contar a história, não vou colocar ninguém botando fogo no corpo na avenida", justifica.

Na igreja porém, o clima é de indignação:

"Alguma medida vamos ter que tomar, isso fere a dignidade dos padres. Quem garante que isso aconteceu?", questiona o advogado da Arquidiocese, Antonio Passos.

Ele pretende procurar Joãosinho na segunda-feira para tentar um acordo, como assinou com a Beija Flor, mas se não for possível vai recorrer ao antigo expediente policial.

"Vou pedir a ele (Joãosinho) que não cometa um ato grosseiro como esse, passa do limite do bom senso", pondera o advogado.

Com ou sem acordo, uma certeza o episódio anuncia: Joãosinho já tem sua polêmica, é carnaval no Rio.
 

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