Francês vira língua oficial no Fórum Social Mundial de Porto Alegre
da Reuters, em Porto AlegreOs números da organização do Fórum Social Mundial indicam que os franceses não são a maior delegação estrangeira em Porto Alegre, superados pelos italianos e argentinos, mas a impressão que se tem é de que a capital gaúcha abriga uma nova "missão francesa" e que o francês em alguns locais virou a língua oficial.
Aos 718 delegados de 235 organizações francesas e 179 jornalistas daquele país, somam-se as cerca de cem pessoas que integram a comitiva "oficial" do governo, incluindo ministros de Estado, e três candidatos à presidência, e talvez isso explique a maior presença de franceses do que de italianos na mídia local.
"Acho que os franceses que vieram o ano passado fizeram um bom trabalho de convencimento na França dizendo que havia coisas muito interessantes aqui", brincou a ex-primeira-dama Danielle Mitterrand comentando o aumento no número de conterrâneos deste ano em relação ao ano passado.
Assim como o ativista José Bové e a maioria das autoridades francesas, ela está hospedada no hotel Plaza San Raphael, um dos mais luxuosos de Porto Alegre, que se transformou em um verdadeiro quartel-general "francófono", onde políticos, intelectuais e jornalistas - em sua maioria franceses- trocam informações sobre as principais discussões do dia.
Na noite de sexta-feira, a movimentação aumentou no hotel, com uma reunião do Partido Socialista Francês, regada a vinho e salgadinhos, reunindo cerca de 50 pessoas, incluindo o número 1 do partido, François Hollande.
"Os socialistas franceses estão em Porto Alegre porque querem ao mesmo tempo ouvir, compreender e participar da luta contra a mundialização desigual, sem controle, mas também querem apresentar propostas", afirmou Hollande, considerado como uma espécie de representante do primeiro-ministro Lionel Jospin em Porto Alegre.
No sábado, a "missão francesa" socialista transferiu-se para o restaurante Cachaçaria Água Doce, onde a cúpula do PSF reuniu-se com líderes do PT, incluindo o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, a prefeita de São Paulo Marta Suplicy e o governador gaúcho Olívio Dutra.
"Temos uma relação especial com o Partido Socialista Francês", disse o presidente do PT, José Dirceu, negando, no entanto, que haveria um acordo mútuo de apoio nas eleições presidenciais da França e do Brasil.
A proximidade das eleições presidenciais na França, cujo primeiro turno ocorre em 21 de abril, aumenta a agitação dos jornalistas franceses.
Bové é estrela
Os discursos dos candidatos franceses, no entanto, têm ganhado pouco espaço na mídia local, que prefere ressaltar a atitude "low-profile" de José Bové deste ano.
Em 2001, o ativista ofuscou os debates ao participar da destruição de uma lavoura experimental de transgênicos da Monsanto.
Mesmo assim, apesar da forte presença francesa, as câmaras e microfones de toda a mídia nacional e internacional voltaram-se, pelo menos nos primeiros dias do fórum, para um americano: o dissidente Noam Chomsky, apontados por alguns como a "estrela" do fórum.
Os franceses, no entanto, não deixaram de incomodar alguns. Na marcha de abertura, podia-se ler em um panfleto distribuído à multidão. "Abaixo o imperalismo francês no 2º Fórum Social Mundial."
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