Reuters
02/02/2002 - 19h09

Francês vira língua oficial no Fórum Social Mundial de Porto Alegre

da Reuters, em Porto Alegre

Os números da organização do Fórum Social Mundial indicam que os franceses não são a maior delegação estrangeira em Porto Alegre, superados pelos italianos e argentinos, mas a impressão que se tem é de que a capital gaúcha abriga uma nova "missão francesa" e que o francês em alguns locais virou a língua oficial.

Aos 718 delegados de 235 organizações francesas e 179 jornalistas daquele país, somam-se as cerca de cem pessoas que integram a comitiva "oficial" do governo, incluindo ministros de Estado, e três candidatos à presidência, e talvez isso explique a maior presença de franceses do que de italianos na mídia local.

"Acho que os franceses que vieram o ano passado fizeram um bom trabalho de convencimento na França dizendo que havia coisas muito interessantes aqui", brincou a ex-primeira-dama Danielle Mitterrand comentando o aumento no número de conterrâneos deste ano em relação ao ano passado.

Assim como o ativista José Bové e a maioria das autoridades francesas, ela está hospedada no hotel Plaza San Raphael, um dos mais luxuosos de Porto Alegre, que se transformou em um verdadeiro quartel-general "francófono", onde políticos, intelectuais e jornalistas - em sua maioria franceses- trocam informações sobre as principais discussões do dia.

Na noite de sexta-feira, a movimentação aumentou no hotel, com uma reunião do Partido Socialista Francês, regada a vinho e salgadinhos, reunindo cerca de 50 pessoas, incluindo o número 1 do partido, François Hollande.

"Os socialistas franceses estão em Porto Alegre porque querem ao mesmo tempo ouvir, compreender e participar da luta contra a mundialização desigual, sem controle, mas também querem apresentar propostas", afirmou Hollande, considerado como uma espécie de representante do primeiro-ministro Lionel Jospin em Porto Alegre.

No sábado, a "missão francesa" socialista transferiu-se para o restaurante Cachaçaria Água Doce, onde a cúpula do PSF reuniu-se com líderes do PT, incluindo o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, a prefeita de São Paulo Marta Suplicy e o governador gaúcho Olívio Dutra.

"Temos uma relação especial com o Partido Socialista Francês", disse o presidente do PT, José Dirceu, negando, no entanto, que haveria um acordo mútuo de apoio nas eleições presidenciais da França e do Brasil.

A proximidade das eleições presidenciais na França, cujo primeiro turno ocorre em 21 de abril, aumenta a agitação dos jornalistas franceses.

Bové é estrela
Os discursos dos candidatos franceses, no entanto, têm ganhado pouco espaço na mídia local, que prefere ressaltar a atitude "low-profile" de José Bové deste ano.

Em 2001, o ativista ofuscou os debates ao participar da destruição de uma lavoura experimental de transgênicos da Monsanto.

Mesmo assim, apesar da forte presença francesa, as câmaras e microfones de toda a mídia nacional e internacional voltaram-se, pelo menos nos primeiros dias do fórum, para um americano: o dissidente Noam Chomsky, apontados por alguns como a "estrela" do fórum.

Os franceses, no entanto, não deixaram de incomodar alguns. Na marcha de abertura, podia-se ler em um panfleto distribuído à multidão. "Abaixo o imperalismo francês no 2º Fórum Social Mundial."

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