Reuters
05/02/2002 - 15h13

Jornais britânicos são criticados por pagar depoimentos

da Reuters, em Londres

Uma professora canadense acusada de manter relações sexuais com alunos adolescentes foi absolvida por um tribunal britânico, mas o caso colocou os jornais sensacionalistas em uma posição delicada depois de alegações de que teriam oferecido dinheiro a testemunhas.

A professora de biologia Amy Gehring, 26, foi absolvida ontem da acusação de manter relações sexuais com meninos menores de idade, mas isto não impediu que o "Sun", o jornal mais vendido do Reino Unido, estampasse a manchete "Escândalo da professora louca por sexo".

Gehring disse durante o julgamento que depois de ir a uma festa e ter bebido, não se lembrava se teve ou não relações sexuais com um aluno, então, por precaução, tomou uma pílula do "dia seguinte".

A Comissão de Queixas à Imprensa (Press Complaints Commission -PCC) divulgou que está entrando com um pedido contra cinco jornais depois de alegações durante o julgamento de que eles teriam oferecido dinheiro a jovens testemunhas em troca de seus depoimentos.

"Escrevemos aos jornais envolvidos e iremos investigar as queixas", disse uma porta-vos da PCC, que policia a imprensa.

Especialistas jurídicos dizem que o caso Gehring iria dar um novo estímulo às tentativas do governo de promover mudanças nas leis para proibir a oferta de dinheiro a testemunhas, o chamado "jornalismo de talão de cheques".

Os críticos dos tablóides sensacionalistas britânicos dizem que o pagamento a testemunhas durante o período de julgamento prejudica o procedimento do tribunal e pode ser mais prejudicial ainda quando há o envolvimento de jovens.

Estes pagamentos são proibidos pela Comissão, que admite exceções se ficar comprovado que os mesmos foram feitos em benefício público.

Batalha
Os jornais, que travam uma batalha feroz para liderar a circulação, seguem o impulso de pagar por entrevistas exclusivas, mas controles estatutários podem agora ser usados para controlar as técnicas de obtenção de informações.

Clive Soley, um membro do Parlamento do partido Trabalhista, prestou queixas à PCC contra cinco jornais -"Sunday Mirror", "Mail on Sunday", "Daily Mail", "People" e "News of the World" -em conexão com o caso Gehring.

O "News of the World" não fez comentários, mas o "Sunday Mirror" e o "People" disseram: "Acreditamos ter agido conforme as regras da PCC e pretendemos nos defender contra as alegações".

"Se você oferece dinheiro a jovens, especialmente para que falem de suas proezas sexuais, eles podem acabar dizendo coisas das quais se arrependerão mais tarde", disse Soley à rádio BBC, citando a guerra entre os jornais.

"Sexo vende jornais -portanto sempre há o perigo de infringir a lei", disse.

Reportagens dos jornais dizem que uma das famílias envolvidas havia concordado em receber pelo menos 10 mil libras (US$ 14 mil, aproximadamente) pela versão do rapaz.

O governo prometeu exercer mais controle sobre este tipo de jornalismo.

"O pagamento a testemunhas pela imprensa pode fazer com que as testemunhas exagerem suas versões para torná-las mais publicáveis, ou fazê-las esconder provas relevantes no tribunal e torná-las públicas com uma entrevista exclusiva a um jornal", disse o chanceler Lord Irvine no ano passado.
 

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