Reuters
11/02/2002 - 14h29

Saiba mais sobre Slobodan Milosevic

da Reuters, em Belgrado

Slobodan Milosevic, 60, conquistou a reputação de um homem pronto para a guerra e o nacionalismo em nome do poder, durante seu regime como presidente da Sérvia e da Iugoslávia.

O nacionalismo sérvio que ele fomentou deu origem às guerras que se espalharam pela antiga Iugoslávia durante a década passada, matando milhares de pessoas na Croácia, Bósnia e Kosovo.

Milosevic não se intimidou quando foi deposto por um levante popular em outubro, assim como quando foi preso, em abril, sob suspeita de corrupção.

Mas seus adversários conseguiram uma vitória hoje ao extraditá-lo para o tribunal da ONU em Haia, Holanda, em uma manobra rápida contra os obstáculos legais erguidos pelos seguidores de Milosevic.

Milosevic é formado em direito. Começou a militar na Liga Comunista de Belgrado em 1983. Entre 1989 e 1997, exerceu dois mandatos como presidente da Sérvia (foi escolhido em eleições diretas). Em 1997, tornou-se presidente da Iugoslávia (formada então pelas Repúblicas da Sérvia e de Montenegro), posto que ocupou até ser derrotado nas eleições de setembro de 2000.

Além de Milosevic, quatro de seus homens fortes, que seguem em liberdades, também são acusados pelos mesmos crimes -Milan Milutinovic (presidente a Sérvia), Nikola Sainovic (que foi vice-premiê iugoslavo), general Dragoljub Ojdanic (ex-comandante do Exército da Iugoslávia) e Vlajko Stojiljkovic (ex-ministro do Interior sérvio).

Reuters - 20.set.2000
Slobodan Milosevic, ex-presidente da Iugoslávia
"Fiz de tudo pelo benefício da nação e do Estado", afirmou o ex-presidente, segundo um de seus advogados, em 23 de junho, quando o governo aprovou o decreto que permitiu sua extradição. "Foi difícil tomar decisões, mas me inspirei sempre em nossa gloriosa história. Espero que ela faça o julgamento final."

Mesmo seus inimigos admiravam o domínio que ele tinha do cenário político interno, que deu a ele condições de governar com mão-de-ferro enquanto mantinha as aparências democráticas.

Seu papel no cenário internacional é igualmente ambíguo. Os governos ocidentais sempre viram Milosevic com desdém, mas confiavam nele como um fator de estabilidade nos Bálcãs _por isso, ele foi aceito nas negociações de paz na Bósnia.

A gota d'água para o Ocidente foi sua campanha violenta contra os albaneses de Kosovo, que levou aos bombardeios da Otan contra a Iugoslávia, em 1999.

Ex-funcionário comunista e ex-presidente da estatal de gás, Milosevic chegou ao poder no vácuo criado pela morte do marechal Josip Tito, em 1980. Ele se tornou líder dos comunistas sérvios em 1986 e conseguiu poder total sobre o partido no ano seguinte. Até o ano passado, foi o homem forte da política local, independente do cargo que ocupasse.

No começo do seu regime, foi extremamente popular. Chegou à presidência da Sérvia nas primeiras eleições livres da República, em 1990, e foi reeleito dois anos depois. Em 1997, tornou-se presidente da Iugoslávia (a federação que reúne Sérvia e Montenegro).

Seu sonho aparentemente era construir um grande império sérvio na destroçada região dos Bálcãs. Mas quando o custo político se tornou muito alto, ele retirou o apoio aos sérvios da Bósnia e da Croácia, permitindo a independência desses países.

Os bombardeios de 1999 obrigaram-no a abrir mão do controle sobre Kosovo, uma região de maioria albanesa, mas vista pelos sérvios como importante centro de sua cultura. Em 1989, ele revogou a autonomia de Kosovo, lançando as sementes de uma guerra que eclodiria uma década depois.

Seu momento mais brilhante no cenário internacional aconteceu em 1995, quando ele se juntou a outros líderes mundiais, como o então presidente Bill Clinton, para a cerimônia de assinatura do Tratado de Dayton, que pôs fim à guerra da Bósnia.

No ano seguinte, começou a enfrentar problemas dentro do país, quando estudantes se juntaram e políticos moderados em torno do grupo Zajedno (Juntos). Durante três meses houve protestos diários, que levaram até 500 mil pessoas às ruas contra uma possível fraude eleitoral. Milosevic contornou a situação dando à oposição o controle sobre algumas cidades pobres.

Em 1997, ele não podia se candidatar novamente à Presidência sérvia. Elegeu-se para o governo iugoslavo, e transformou um cargo decorativo em centro real do poder. Em 2000, emendou a Constituição para conseguir mais um mandato e instituiu eleições diretas para o cargo. Foi um erro.

Perdeu a eleição já no primeiro turno para o nacionalista moderado Vojislav Kostunica. O governo disse que a maioria absoluta não havia sido alcançada, e que um segundo turno seria necessário. O protesto da oposição resultou em uma enorme mobilização popular, cujo auge aconteceu em 5 de outubro de 2000: milhares de manifestantes invadiram e incendiaram o Parlamento iugoslavo e a sede da TV estatal sérvia.

Mesmo deposto, Milosevic permaneceu na vida pública, como líder do Partido Socialista. Ele só saiu de cena quando as autoridades decidiram prendê-lo, em março, para evitar sanções norte-americanas.

Após um cerco de 36 horas contra sua mansão em Belgrado, em que a polícia chegou a invadir os jardins empunhando armas automáticas, Milosevic acabou se rendendo.

Filho de um professor de teologia, Slobodan Milosevic nasceu em Pozarevac, a sudeste de Belgrado, em 1941. Seu pai e sua mãe se suicidaram.

Advogado de formação, ele parece ter sido muito influenciado por sua mulher, Mirjana, uma socióloga neocomunista de quem não se separa desde o colégio. O casal tem um filho, Marko, e uma filha, Marija.

Marko, odiado pelos sérvios por sua associação com negócios suspeitos, fugiu para Moscou logo depois da queda do pai. Seu paradeiro é desconhecido.

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