Reuters
14/02/2002 - 17h18

Livro "Holocaustos Coloniais" denuncia desastre no Terceiro Mundo

da Reuters, em São Paulo

Em "Holocaustos Coloniais - Clima, Fome e Imperialismo na Formação do Terceiro Mundo" (Ed. Record, 490 pags), o escritor norte-americano Mike Davis usa o fenômeno El Nino para explicar as secas que assolaram regiões como o Brasil, a Índia, a China e o norte da África no final do século 19, e retratar como a pobreza do Terceiro Mundo se formou nesses locais.

Davis, que é professor de teoria urbana no Instituto de Arquitetura do Sul da Califórnia, traça em "Holocaustos Coloniais" uma espécie de denúncia contra os países imperialistas e capitalistas, sobretudo Japão, Inglaterra e Estados Unidos, que, na sua visão, poderiam ter evitado as epidemias e a fome nas colônias. Sua tese não é novidade, mas ainda assim se faz contundente.

O Nordeste brasileiro é especialmente destacado no livro como uma região de clima semelhante à China e à Índia e vítima dos efeitos mais devastadores do fenômeno climático El Nino entre 1876 e 1902.

De acordo com Davis, a seca no Nordeste beneficiou comerciantes ingleses e donos de engenhos de cana-de-açúcar da região.

Segundo o livro de Davis, mais de 30 milhões de pessoas morreram de fome e epidemia em consequência de secas e monções.

Ele acusa a Inglaterra, por exemplo, de ter usado a tragédia para afirmar ainda mais a sua soberania sobre a Índia, e diz ainda que os interesses comerciais da época provocaram um verdadeiro "genocídio cultural" nos países conhecidos hoje como de Terceiro Mundo ou em desenvolvimento.

Para corroborar suas histórias, o autor usa relatos de missionários, que descrevem desastres naturais que ele qualifica como de proporções "bíblicas".

"Holocaustos Coloniais", lançado no exterior em janeiro do ano passado, chega às livrarias em português e, embora pareça ultrapassado e radical para os padrões neoliberais e globalizados da atualidade, tem muito para se identificar com quem conhece as consequências de perto.
 

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